ESTILHAÇO IV - O mosaico de Karol Bauer

Os desejos mais recônditos, portanto, mais invioláveis, caverna opaca do subconsciente, nem sempre são os menos alcançáveis. Eles, adormecidos numa hibernação aparentemente sem fim, quase sempre despertam... A imagem, sem dúvida, é inesquecível. Nos idos de hoje chamar-me-iam pré-adolescente, outrora, não me recordo, acho que, apenas, criança. Eu já estudava no externato (não convém datas, endereços, nomes) com professoras freiras. A imagem, um rosto suavemente curvilíneo, angélico, róseo e sublime como nenhuma freira jamais ousou ser. Rosto mais bonito não havia. Não houve. Certamente, para mim, não haverá. A chama de uma imagem poderosa e impagável arde dentro de mim com a mesma intensidade da primeira vez em que a vi. Era a nova professora de francês, recém-chegada de outro estado. A imagem, o rosto avassaladoramente bonito. Eu admirava a beleza, gostava de ficar perto dela, creio que ela gostava de ficar perto de mim. Jamais esquecerei a primeira aparição diante de nós alunas: Hipnótica, absoluta. A primeira fitada de olhos. Estremeci. Ela foi apresentada pela Madre superiora. E a nova professora nos disse: Bon jour!

KAROL BAUER
Enviado por KAROL BAUER em 03/12/2008
Reeditado em 03/12/2008
Código do texto: T1317209