FLAGELOS DA HUMANIDADE

A tragédia em Santa Catarina aguça-me a desenvolver um tema que há muito me impulsiona como elemento de filosofia e, sobretudo, como ser humano munido de fraquezas e de indagações que permeiam os dogmas religiosos e todos os outros mistérios que nos acompanham durante nossa existência. Sabemos que somos pessoas dotadas de fé e que nos enquadramos numa missão na terra que vai além do ser laborativo que luta pela subsistência. Por essa razão, falo do lado transcendental que muitas vezes nos assusta, quando observamos dilemas dessa natureza, quando centenas de pessoas – de uma hora para outra – são tolhidas da paz do dia-a-dia, perdendo seres queridos e todo a estrutura rudimentar da família.

Sempre me questionei sobre as razões para as grandes tragédias. Antes de pesquisar sobre o tema, achava que se tratava – sob o ponto de vista espiritual – que as mortes coletivas decorrentes de tornados, tsunamis, terremotos, enchentes, ciclones etc., eram um processo natural de controle da taxa de natalidade com a de mortalidade, partindo-se do princípio que as estatísticas demonstram que mais nascem pessoas do que morrem, logo, para efeito de um equilíbrio precário, presumia eu que nosso Criador tinha de recorrer a essas tragédias para que nosso mundo tivesse um certo controle sobre as massas humanas.

Evidente que não tinha absoluta certeza sobre o que pensava, até porque o raciocínio não tinha base em nenhuma pesquisa, mas em simples ilações provenientes de raciocínio meramente matemático. Não poderia ficar estagnado nessa premissa, sob pena de persistir na ignorância, já que aquilo que pensamos por nós mesmos, muitos vezes são idéias equivocadas e sem sentido, quando deparamos com as descobertas científicas que envolvem o tema. Como se trata de uma questão que transcende nossos parcos conhecimentos como ser humano, já que envolve o fenômeno morte, sobre o qual não contamos com qualquer substância objetiva para decifrá-lo, vi-me numa encruzilhada para poder fazer um melhor estudo sobre minha teoria.

Não obstante, percebi que minha procura não estava em livros científicos, mas sim em dogmas ou em teorias filosóficas das quais se extrai o binômio entre corpo e alma, partindo-se do princípio que não somos só matéria, porque estamos jungidos pelo poder de criação do pensamento, com o qual desenvolvemos o alimento do espírito. Assim, meu primeiro passo foi fazer esse questionamento a um amigo estudioso do espiritismo. Ele não só me ofereceu a resposta – de acordo com os ensinamentos Kardecistas – como me indicou um livro de sua autoria com o título: Espiritismo Passo a Passo com Kardec (autor Christiano Torchi), do qual me socorri para tentar entender – sobre o ponto de vista espiritual – qual é a explicação para esses fenômenos que muitas vezes levam milhares de pessoas à morte e ao sofrimento.

O ensinamento vem delineado no Livro Espírita, 728, na chamada Lei da Destruição, com o seguinte conceito: “Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos”. Esse enunciado, por si só, parece que Deus quer destruir tudo para uma construção de novos seres vivos. A questão não deve ser vista por esse prisma. Em primeiro lugar Deus não é vingativo e nem destrutivo. A renovação de que se fala não é só o aparecimento de outros seres vivos, mas sim a comiseração e o sentimento de solidariedade e de unidade que se instala numa catástrofe. Santa Catarina é um exemplo atual da grande comoção que se verificou na Nação brasileira nos últimos dias, com a mobilização nacional em torno de ajuda às pessoas vítimas da catástrofe. O aperfeiçoamento moral das pessoas é um dos méritos que se verifica num evento dessa natureza.

Por outro lado, há muito tempo o homem de forma geral deveria ter atentado para a sua constante agressão ao meio ambiente, mas somente agora, depois do estrago evidente na camada de ozônio é que passou a se preocupar. Há no Universo a lei da ação e reação. Quem ataca um dia também será atacado.

Contudo, a doutrina Kadercista diz que esses elementos de destruição tendem a desaparecer quando o homem começar a pregar o bem e tornar-se evoluído no que concerne à grandeza da alma. É o que diz o referido autor (acima citado), pág. 165: “A necessidade de destruição, contudo, tende a desparecer, à medida que ocorre a evolução, tanto no aspecto intelectual quanto no moral, ou seja, à medida que o espírito sobrepujar a matéria”.

Assim, os flagelos, funcionam dentro do contexto Universal da existência espiritual, como um “puxão de orelha”, mas que dói no coração, para que os homens sejam sensíveis à sua natureza moral, já que não foram colocados na terra para fazer o mal, mas para se recuperarem de erros cometidos em vidas passadas. Cito as diferenças entre os denominadas flagelos, na noção repassada pelo autor Christiano Tochi, no livro citado, pág. 166/167: “Os flagelos destruidores constituem outra modalidade da Lei de Destruição. Os flagelos podem ser naturais (provocados pela natureza, tais como vulcões, terremotos, tempestades etc) ou provocados pelos homens (guerras, revoluções, guerrilhas etc).Os flagelos destruidores, segundo os Espíritos, têm a finalidade de impulsionar a Humanidade ao progresso, tanto no aspecto moral, como no físico e intelectual. Os flagelos constituem provas que oportunizam ao homem exercitar a inteligência, demonstrar paciência, resignação, solidariedade e amor ao próximo (LE, 737, 739 E 740). Tal como acontece com a terra, ferida pelas lâminas afiadas do arado, que, revolvida, encontra meios de se regenerar mais rápido, a destruição que aflige a Humanidade, embora pela dor, também serve de estímulo para a busca de soluções para seus problemas de ordem intelectual e moral”.

Não devemos olvidar que os exemplos bíblico estão cheios de alusões a catástrofes coletivas: dilúvio, pestes, incêndio em sodoma e gomorra etc.

Assim, cabe a nós seremos humanos mudarmos nossa concepção de vida, usando de nosso livre arbítrio para fazer o bem, sobretudo aproveitando tais ensejos que são colocados ao nosso dispor, para que possamos sentir compaixão e piedade. O exemplo está se tornando uma realidade em nosso dias, a partir do momento em que observamos milhares de pessoas de todo o Brasil empenhadas a oferecer condições materiais para que os desabrigadas de Santa Catarina possam sentir um pouco confortados com a mão amiga. Todo o sofrimento daquelas famílias que perderam entes queridos, que perderam a moradia, que perderam os bens pessoais e até o emprego, certamente será recompensando numa dimensão mais profunda.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 03/12/2008
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