DO QUE OUVIA E DO QUE LIA
O que ouvia: Prelúdio, introdução Bachianas Brasileiras nº 4 de Heitor Villas Lobo, executada ao piano por Miguel Proença; O que lia: Elogio da Loucura de Erasmo de Rotterdam.
A música continua. Pausa na leitura..., quero saber de mim se a senhora “Moria” ( loucura em grego) preocupa-me. Respondo: Canguru..., que numa das línguas australiana significa “Não sei”.
Por que não sei? Porque não se deve qualificar de loucura todo erro de espírito e de senso; porque não se pode taxar de louco alguém de vista curta, que toma burro por jumento; ou por falta de senso crítico entender como ótimo um mau poema; porque alguém confunde o zurro de um burro com uma sinfonia ou porque sendo alguém de origem humilde acredita ser o rei Creso, da Lidia, que foi o homem mais rico da terra, criador da moeda de ouro e que certa vez perguntou para Sólon se não era ele mais feliz dos mortais, o filósofo respondeu-lhe: “ Majestade, vós me pareceis muito rico, tendes um grande reino; reservo-me, porém, para responder à vossa pergunta quando fordes muito feliz”. (É lendo que a gente aprende)
Então, como definir a loucura? Se alguém usa da semântica no seu discurso de "louco", não se acerca da razão de ser? Não fala o que pensa?
Não cabe mais em nossa época a visão de Homero, de que o homem não passa de boneco nas mãos dos deuses e que o nosso destino é manipulado ao bel prazer dos “moiras”, levando a certo grau de loucura. Sócrates acreditava nisso e estabeleceu quatro tipos de loucuras: a profética; o oráculo; a loucura amorosa produzida por Afrodite e a loucura poética produzida pelas musas.
Afirma Hegel, que a loucura não seria a perda abstrata da razão: "A loucura é um simples desarranjo, uma simples contradição no interior da razão, que continua presente".
Tem quem afirme que a loucura deixou de ser o oposto à razão ou sua ausência, tornando possível pensá-la como "dentro do sujeito", a loucura de cada um, possuidora de uma lógica própria. Reconhecendo que Hegel tornou possível pensar a loucura como pertinente e necessária à dimensão humana, pois afirmou que só seria humano quem tivesse a virtualidade da loucura, pois a razão humana só se realizaria através dela