Manifesto de um Psicólogo Desatualizado e Desempregado
Estava eu, em meu computador como rotina de um desempregado e de todas as noites, lendo, pesquisando sites, cursos, workshops, pós-graduações, etc, quando deparei-me com algumas incógnitas que, inclusive, assombram minha mente há algum tempo.
A começar pelo lado financeiro: as instituições não hesitam em "meter a faca", cobrar valores absurdos ás vezes por cursos de 4 ou 5 dias - os ditos "workshops". Ou mensalidades bem salgadas para o bolso de um rélis mortal. Além disso, os dias e horários são os mais interessantes: "encontros uma vez por semana, ás quintas-feiras, das 13:00 às 17:00hs". Oras, e quem trabalha? Não pode fazer o curso na instituição que escolhe porque precisa trabalhar?
Então, só resta concluir o seguinte: psicólogo bom é psicólogo com dinheiro, tempo, carro; psicólogo bom pode sair do emprego a hora que quer, fazer o curso que bem entender em qualquer lugar, que o gestor não vai sentir falta, vai dizer "tudo bem, vai em frente, não se preocupe". Psicólogo bom tem mestrado, doutorado, pós-doutorado ou e/ou o tal do MBA. Psicólogo bom já publicou dezenas, centenas, talvez milhares de artigos nas mais respeitadas e diversificadas revistas. Psicólogo bom teve tempo de participar de congressos, mesas-redondas, programas de tv, escrever e publicar livros. Será que plantaram árvores e tiveram filhos também, completando o ciclo de realização do ser humano?
Psicólogo bom é assim, então eu estou na categoria dos ruins, pois estou desempregado, não tenho "bala na agulha" pra investir e ser um profissional altamente qualificado. O mercado lá fora exige experiência, conhecimento, prática, e ninguém dá a oportunidade de começarmos, logo não tenho como ter dinheiro para investir e me aperfeiçoar. Será que com outros profissionais é assim?
Fica a pergunta no ar, e eu continuo aqui, sonhando, idealizando, planejando. Quem sabe um dia, eu atinja o Olimpo dos Psicólogos-Deuses, e deixe de ser um rélis psicólogo recém-formado mortal.