A IMPORTÂNCIA DE LER OS CLÁSSICOS DA LITERATURA_ 2ª PARTE

(...) Havia ainda a expectativa de poder encontrar Robin Hood e os seus corajosos amigos acompanhados do gordo e hilário frei Tooth, a aterrorizar e a roubar a bolsa dos nobres viajantes que ousavam passar pelos seus domínios, e, com o seu cavalheirismo inusitado, beijar as mãos das jovens donzelas, que abandonavam as suas jóias em troca de um sorriso e de um olhar ardente. Robin Hood também podia ter conhecido Ivanhoé, o cavaleiro que vestia grossas armaduras e lutava com lanças e espadas em grandes torneios nos reinos da Bretanha. Nessa época da vida tudo era possível na imaginação de um jovem leitor, que ainda não tinha experienciado a aprendizagem racionalizante da linha do tempo.

Por isso, era muito fácil vislumbrar o olhar sonhador e corajoso de um cavaleiro esquálido, vestido com a sua armadura brilhante, empunhando uma lança, galopando em seu cavalo branco em direção aos exércitos de moinhos de vento, imaginando-os soldados, mas, é paradoxal; quando percebemos que o seu escudeiro Sancho Pança, um baixinho atracado e gordo, que não se permitia a viver de ilusões, com a sua racionalização, e com isso, consegue derrubar do cavalo Dom Quixote de La Mancha, e o seu sonho de consertar o mundo. O espanhol, Miguel de Cervantes Saavedra, sob captar neste romance; o que é dual na alma do ser humano, por isso que Harold Bloom, o coloca como o fundador de todo o romance moderno classificando-o como: "O primeiro e melhor de todos os romances".

D. Quixote pode ser seguido, peripécia a peripécia, sem nenhuma exigência de maior erudição. O humor está no centro das desventuras do fidalgo de La Mancha que, de tanto ler histórias de cavalaria, perde a razão e sai pelas vizinhanças para defender os fracos, punir os cruéis e devotar-se a donzela do seu coração, Dulcinéia que na verdade se chamava Aldonza, e era uma camponesa simplória.

D. Quixote mete-se em monumentais embrulhadas, toma moinhos de vento por gigantes, frades por salteadores, taverneiros por nobres e termina com o corpo moído e os sonhos inabalados. D. Quixote é um sujeito colérico, desbocado, tolo e ao mesmo tempo sublime, pois era movido pela mais pura das intenções. Todo leitor sabe que ele será derrotado, mas esse grande fracassado consegue conquistar o amor incondicional de seus leitores. Ele é o fidalgo que parece um arlequim maluco, e suas loucuras são as sínteses das nossas melhores virtudes: coragem, independência de espírito e compaixão.

Um vórtice temporal chamado literatura aproximou o Oriente do Ocidente, e o encontro da cultura dessas duas partes do mundo começou com as novas descobertas feitas pelos homens da Península Ibérica, através da possibilidade de "navegar por mares nunca dantes navegados". Com as novas descobertas marítimas iniciadas pelos portugueses, que estendeu o seu império até a China, e por meio da força garantiu por um período de tempo, o monopólio do comércio marítimo através da rota descoberta por Vasco da Gama até as Índias. Foi assim, que muitos dos clássicos orientais chegaram às bibliotecas da Europa.

Um deles foi à coletânea de contos populares árabes intitulados: "As mil e uma noites”. Os contos propiciam aos jovens estudantes das últimas séries do ensino fundamental, um contato direto com os costumes, a religião e a vivência dos povos do Oriente, porque podem perceber, através da leitura, as ligeiras variações de temas dados por suas narrativas, com as cidades milenares e seus palácios dourados onde residem os grãos vizires, os sultões em seus aposentos repletos de tecidos e tapetes coloridos, fontes refrescantes, arabescos pintados nas suas paredes e tetos lembrando as figuras geométricas, e seus haréns repletos de concubinas mantidas prisioneiras a sete chaves pelos guardas e eunucos.

(Continua)