ESTILHAÇO III - O mosaico de Karol Bauer

Ainda existem pessoas que, erroneamente, minimizam o estado depressivo de um ser. Desacreditam na real capacidade, contida no depressivo, de dar cabo ao próprio intento. Finalizar algo sem sentido, sem nexo, padecer no alívio definitivo e sem volta. A vida é a fragílima borboleta que, já transformada, morrerá diante da cruel brevidade de si mesma. Apesar de velha, eu sinto que meu último vôo aproxima-se. E esta sensação me deprime bem como minha brevidade. 77 anos e a vida me vivendo, quando deveria ser o contrário. Eu queria ter a coragem de entupir-me de remédios, mas não a tenho. Matar-se não é um ato de covardia, só quem nunca tentou afirmaria tal estupidez. Dizem que morrer dormindo é a melhor das mortes, pois não é doloroso. Uma vida inteira, ou quase, dolorosa, para, no fim de tudo, morrer sem dor? Seria incompreensível. Não quero uma morte suave, quero uma morte agonizante e lenta, uma morte que me dê tempo de jogar na cara da vida tudo que não desejei ter vivido. Não me sinto mais eufórica ao escrever meus mosaicos. Expor-me talvez tenha sido um erro... Escrever também é doloroso... Uma dor diferente e libertadora, efêmera liberdade... Expor-me talvez tenha sido um acerto.

KAROL BAUER
Enviado por KAROL BAUER em 02/12/2008
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