CLARICE VAI PRA GUERRA
ALGUMAS COISAS NÃO MUDAM.
Amizades com segundas intenções. Amores dissimulados. Paixões obsessivas. Comentários destrutivos.
Clarice sabe que é preciso cuidado redobrado.
Com toda unanimidade. Com generosidade em excesso. Com os que sorriem fácil e principalmente com os que riem da desgraça alheia. Com os que torcem pelo fim das coisas boas. Porque incomodam ou porque causam inveja. Com os que se metem em questões para as quais não foram chamados e ainda mais com os que tomam conta da vida alheia.
Clarice sabe que viver é um risco e só quer que os pesadelos diminuam.
Sabe que o sono é o corpo de delito do amor, mas precisa dormir com um olho aberto. E manter (sempre) um pé atrás. E desconfiar sempre dos apertos de mão e das palavras de apoio dos que se dizem amigos. Por trás do óbvio pode estar uma bomba de efeito remoto.
Na sua monotonia poética, ela sabe o quanto custa manter certas coisas nos lugares de onde jamais deveriam ter saído. Relações que terminam sem mais porquê. Relações de carinho que se confundem com traição. Amigas maníaco-depressivas com as quais jamais deveria ter relações. Comentários maliciosos e fora de hora. Presente de grego em dia de aniversário. Coisas que os amigos jamais fariam. Se fossem amigos.
Clarice procura evitar ex-namorados com crise de sexualidade e que se comovem com a dor alheia, mas não sabem bem porquê.
Deitada na banheira enferrujada, ela pensa nesse mundo de opostos. Enquanto toma vinho barato e desenha tatuagens pelo corpo com uma pequena faca. Clarice espera.
Espera pelo inimigo.
Ela sabe que ele está lá fora e é só uma questão de tempo.
Ela está preparada.
Porque algumas coisas não mudam. Nunca.
Wallace Puosso
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