CANÇÃO OBLÍQUA PARA DELEITE DE JACKIE SALUTAR
DE UMA HORA PARA OUTRA, descobri extasiado que as orquídeas são altamente eróticas & brutalmente rodrigueanas mas alguém já insinuou, sussurrando na coxia entre um ato & outro, que degustar flores nunca foi muito aconselhável, principalmente as com menos de dezoito, o que não se aplica a esse caso, é claro. Certa noite, num pequeno vilarejo ao pé da serra, enquanto ânimos exaltavam-se & espíritos entorpecidos dichavavam oferendas a um deus pagão, entupi-me de vinho barato & recitei meio trôpego à beira da piscina esverdeada, um poema de bete-qualquer-coisa, uma figura metida a janis voltando de woodstock à pé & eu lá declamando entusiasmado minha fé quase cega de tão lúcida & embalado pelo velho & bom rock’n roll de uma guitarra attômica, quando você definitivamente estourou meu limite de criatividade & eu lhe mandei caçar coquinhos no boteco da esquina, você & toda sua companhia de teatro governamental. Enquanto as pedras rolam pelo pequeno reino industrial-cultural eis que surgem esboços mambembes que precisam ser lapidados & integrados ao meio. Você que nunca se integrou em nada, em vez de contar estrelas, uma a uma, voltou com um par de lagartixas de pepsi que eu simplesmente odiei, mas para não lhe contrariar, joguei as duas pela janela, fiz um brinde com o vidro estilhaçado achando tudo muito engraçado & fui detido no dia seguinte por tentativa de agressão à camada de ozônio. Pode?
[WALLACE PUOSSO, do livro “Estrangeiro” a ser lançado talvez em 2006]
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