A GRAVIDEZ DAS ILUSÕES NÃO BELAS
A GRAVIDEZ DAS ILUSÕES NÃO BELAS
Marilia L. Paixão
Faz dias que estou adiando um texto sobre as ilusões... Será que será sobre as ilusões do amor? Nossa! Não posso nem ficar refletindo muito ou as ilusões aumentam. Certas ilusões se fortificam tanto que parecem vestidas de uma forte massa de cimento para não se dissolverem no ar, ou no mar ou no fogo. Tudo passa a ser válido em sua própria idéia do que lhe pareceu ser a felicidade em jogo. Acontece que depois de tão forte, se essa ilusão persiste em não ir embora, por mais que o diabo a ameace ou que Jesus carinhosamente lhe chame, e a ilusão não atender chamado nenhum, essa ilusão pode ser maléfica e duradoura.
Mas quem sou eu para falar destas ilusões?! Eu, justo eu que fui agraciada como a expert em coisas do amor? Ora! Eu sou só expert das emoções que sinto ou vejo acontecer e considero verdadeira. Mas eu bem que gosto de pensar nas relações amorosas... O resto eu deixo por conta das letras. São elas que sabem do mundo. Teria que me aventurar por trilhos da psicanálise para entender um pouco de ilusões tão diversas? Teria que falar sobre distúrbios psicóticos ou simples delírios, martírios, e só Deus sabe o que mais para continuar usando letras referentes a gravidez das ilusões que a princípio podem parecer belas? Será que eu não deveria abortar o assunto assim como certas ilusões deveriam ser cortadas?!
Mas e as pessoas que escolhem ilusões para delas se engravidarem eternamente? E as pessoas que grávidas destas ilusões constroem castelos murados e neles tentam reinar como reis absolutos em constante ditadura de delírios pátrios ou apenas geográficos? Não! Não é minha intenção levar para o lado político, mas é que certos termos cabem em uma ou outra situação de qualquer um. Pensem em Leonardos e Catarinas (A favorita) e ele lhe parecerá em casa como o ditador de seu considerado inteiro reino. Pensem no alemão que aprisionou a filha... Será que era um alemão?! Importa é se vocês estão entendendo a questão. Mas se tratando de casos mais brandos mesmo a ilusão do ser mais bobamente apaixonado pode se transformar numa perseguição de fórmula um e virar questão de vida ou morte para o ser grávido. E este ser grávido de ilusões pode se transformar no maior vilão dele mesmo assustando outros...
Se o sujeito não abre mão do que lhe parece fortemente conquistado ou construído, ele pode se armar de "loucura, loucura, não me compreenda." Não é que me lembrei de uma música da Ângela Roro?! E na mesma música ela diz "loucura, loucura, pior é a emenda, eu amei demais..." Usei essa letra só para ilustrar que as músicas desde não sei lá quando já relacionavam o amor à loucura. Esta impetuosa escrita não me permite pesquisas sérias para comprovar minhas primícias. Será que minha ilusão é viver de intuição?! Afinal, todos nós nos iludimos de uma forma ou de outra. Mas a ilusão da qual trato aqui não é a saudável, doce e passageira... Pois as ilusões saudáveis acabam no momento certo. Não ficam se impondo, exigindo uma morada enlouquecida, esbravejando amor.
E tem mais! Atualmente crianças são mortas em função de um outro amor. Loucuras de amor?! O jornal não cansa de listar crimes de origem amorosa. O filme Match Point deu um outro grande exemplo. Cá entre nós prefiro os exemplos dos filmes. Vê como nos incomoda os exemplos reais? Eles nos afastam dos sonhos que necessitamos tanto. Preciso dar mais algum exemplo de loucura amorosa, ardente, enfebrecida, calorosa e furiosa? Devemos ter medo das ilusões do amor? Devemos ter medo dos que se engravidam da ilusão que escolhem possuir para sempre? A minha resposta é sim. Mas nem todo louco de amor é um futuro perigo para sociedade. Todos nós possuimos nossa fase de apaixonante loucura...
Mas olha que estamos também na era do medo, pois essa era de conecção total assim como trouxe benefícios da informação, da troca de cultura, amizade e de outros laços bons, também aumentou os horizontes dos que perpetuam a gravidez de sua ilusão preferida e os loucos são tão desiguais... É preciso cuidado até com quem jura amor do lado, imagina na extensa distância virtual em que quanto mais você acha que conhece um ser, menos dele você sabe. Sabe-se lá se é um grávido de pedra ou de metralhadoras?
Sabe-se lá se sonha em ir para o cinema matar pessoas enquanto você deseja apenas alguém para lhe segurar a mão?! Virtualmente é fácil acreditar quando ele lhe diz: I wanna hold your hand. Virtualmente tudo o que queremos é acreditar quando ele diz: I love you. Por essa ser a carência maior do ser humano, carência que os loucos também sentem. Mas tentar prender o outro com a ilusão deste amor contrariando-lhe a vontade, pode ser apenas um traço da teia da psicose que não se mostra em sua forma verdadeira. Como evitar que este ser segure a sua mão? Como se prevenir deste louco amor?
Deixo a resposta no equilíbrio das relações. Onde há equilíbrio deve haver menos perigo. Portanto, quem jura ser capaz de morrer de amor por você, deve ser capaz de matar também. Vale lembrar que tem aumentado o número dos que matam a família para depois se matarem. Dos que matam colegas de sala para depois se matarem...Você quer viver com quem mataria por você? Me dá um tempinho ai que vou me calçar para correr...Se sua resposta for sim, estarei voando de medo.