QUANDO DANCEI "GISELLE"

QUANDO DANCEI “GISELLE”

O “ PARIS OPERA HOUSE “ , feéricamente iluminado, flutuava no ar qual imagem de sonho ...

Decoração em vermelho forte e dourado encobria o ambiente em véu de magia.

O lustre central do salão, imensa obra de arte refinada, deslumbrava pela magnificência...

Camarotes já repletos, damas e cavalheiros elegantemente trajados, focavam platéia e palco com elegantes binóculos.

Abrem-se as cortinas... já aos primeiros acordes de cada nova apresentação, meu coração parece querer saltar ...

Giselle... emoção sempre renovada...

Apagam-se as luzes lentamente e as bailarinas irreais, leves, românticas, começam a dançar...

Em conjunto vêm acolher Giselle, jovem e linda camponesa que chega para a vindima...

A música vai penetrando minha alma, sensibilidade à flor da pele, eu rodopio em " pirouette " buscando junto à experiência da técnica, a graça e o lirismo...

Já não sou eu quem dança, mas a etérea Giselle, emoção e ternura.

Apaixonada por Albrecht, nobre disfarçado no camponês

Loys, com o fim de conquistar a terna e modesta Giselle, ela dança embevecida, flutuando nos braços do “partner”... e a emoção vai me envolvendo, sou mesmo Giselle nos braços do amado, em variações brilhantes para a minha apresentação esplêndida, insuperável...

Hilarion, o guarda dos bosques, também apaixonado, mas rejeitado por Gisele, jura vingar-se de Loys.

E a dança prossegue cheia de floreios e movimentos em pliés, croisés, a orquestra aumentando a intensidade num crescendo progressivo, quando surge em cena a mãe de Giselle temendo pela vida da filha de saúde precária , frágil , embora elegante e esbelta.

Lindos movimentos entre mãe e filha temendo a mãe se torne Giselle uma das WILLI, habitantes noturnas dos bosques, almas jovens que, ao terminarem suas vidas prematuramente antes de se casarem, se convertem em uma WILLI...

Tristeza e ternura, e eu emocionada com a dor de ambas,

sofro de verdade, sem perder o compasso...

Os aldeãos festejam a conclusão da colheita e coroam Giselle a rainha da vindima... Não é Giselle que rodopia em solos de ponta e floreios, mas eu, sentindo toda a alegria e júbilo pela minha execução perfeita em variações alegres e brilhantes...

E na alegria da coroação festiva, surge o Conde Aldebrecht, logo desmascarado por Hilarion, sempre enciumado. A alma de Giselle é consumida pela mágoa e, inconsolável por ter sido enganada pelo falso LOYS, é envolvida em desespero até à loucura.

Sucumbe seu frágil coração...

( Sinto palpitações, tal meu envolvimento na história, dançando comovida as últimas cenas do primeiro ato, as luzes se apagando, e eu Giselle, apagando para sempre...)

Devagar as cortinas vão se fechando...

Os aplausos estrondam ...

Volto ao camarim para refazer-me, tão emocionada me sinto. Relaxo e procuro descansar um pouco. Logo, logo devo voltar para o segundo ato.

Respiro fundo, venho calma e devagar para as coxias e aguardo a chamada para o palco.

O segundo ato é a glória para mim, a oportunidade de exibir todo meu talento e esforço por toda uma existência de dedicação e estudo, usando todos os passos batalhados com o amor de uma vida inteira...

Silêncio total na platéia, as cortinas se abrindo para o segundo ato.

Na floresta, Hilarion está de vigília na tumba de Giselle.

Meia noite as WILLIS surgem, espectrais, fantasmagóricas e obrigam os homens que aparecerem a dançar à exaustão. Em evoluções dançam ao redor de Hilarion, impelindo-o à morte. Eu, - Giselle - apenas acompanho a dança , velada sobre a campa, temerosa da visita de Albrecht que, à noite vem trazer flores à campa.

Inicia-se o “ADAGIO”... meu coração acelerado segue o ritmo da orquestra numa freqüência intermitente, grave e suave, para o início do “GRAND PAS DE DEUX”...

Albrecht é condenado a dançar sob o poder das WILLIS, até que sucumba. Giselle o protege em evoluções “pirouette´, ”jetés , “pliés”e inúmeros passos...

Dançamos cada um se esmerando em seu solo, sempre acompanhados da interferência do outro e eu vibro de emoção protegendo Albrecht , dançando, dançando poupando-o da exaustão da morte certa...

Aos primeiros albores, desponta a aurora e o encantamento das WILLIS se desfaz. Elas desaparecem...

Num “moderato” expressivo, Giselle dança os últimos passos, rodopia de leve e conduz o amado até à luz e a vida, desaparecendo pouco a pouco...

Saio exausta e feliz sob aplausos que me fazem voltar ao

palco sob ovação!...

“ - ACORDA, MENINA, HOJE JÁ COMEÇA O HORÁRIO DE VERÃO E VOCÊ VAI PERDER A HORA NO COLÉGIO!!!... "

Êita vida dura...

(Que me perdoem os bailarinos e professores de ballet, não entendo nada da teoria, usando termos aleatoriamente, mas amo a dança clássica...)

Linandre
Enviado por Linandre em 02/12/2008
Código do texto: T1314474