Crônica sobre um Ônibus

Era uma tarde simples e nublada na bela cidade de Belo Horizonte, e um ônibus subia potente por uma rua antiga próximo a um cemitério. Parecia que o motor consumido pelo tempo encontrava uma força sobrenatural com as primeiras gotas de chuva que retumbava em seu vidro arranhado pelas árvores, ao longo de seus muitos anos de trabalho.

Um garoto olhava a chuva cair fraca e tornar-se forte com a velocidade do veículo, sentado no último banco sob o bloco do motor, ele sentia como se tivesse uma ligação com aquele ônibus que nem o próprio era capaz de explicar a quem ouvisse suas besteiras, mas sentia a força que o motor aplicava sobre a lei da gravidade, e olhava perplexo para o retrovisor onde o motorista apenas sorria em uma conversa animada com o Agente de Bordo sobre o futebol da região.

Alguns parafusos e junções metálicas expeliam um som que soava como um urro em resposta a falta de consideração do condutor a sua velha situação, a temperatura aumentava e a chuva invadia o interior do veiculo devido às janelas abertas que projetam as gotas sobre os rostos dos passageiros que começavam a reclamar da situação do ônibus.

O garoto como que em premonição sentiu que tal veículo estava por um fio, eriçou-se com os “trancos” fortes que sucediam as passagens de marcha e as arrancadas, pouco depois de um passageiro descer, o ônibus decidiu que não iria sair do lugar, seu motor velho e deteriorado havia alcançado um estágio de uso e esforço que empreendeu em uma sobrecarga do motor.

O garoto apenas sorriu, fechou a janela e aumentou o volume no rádio, ele sabia que tudo aquilo iria acontecer.

Dark Nightfall
Enviado por Dark Nightfall em 02/12/2008
Reeditado em 03/12/2008
Código do texto: T1314095
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.