Era janeiro de 1988. Por um daqueles momentos de abstração, de olhar para o céu, eu visualizei uma imagem rara: uma conjunção Lua e Vênus. Imagem rara, pela quase justaposição dos dois astros no olhar terrestre. Naquele momento, registrando fotograficamente tal fenômeno, escrevi sobre o fato, comparando a uma forma de oração.
Uma vez mais esse fenômeno foi visto por mim, porém não na beleza daquele. E novamente registrei fotograficamente. Dessa vez, com uma câmera digital. Diferença de imagem, diferença de contrastes. Mas o registro e a oração ocorreram.
Meu hábito de sempre perscrutar o céu, como se em algum momento algo pudesse ser visto, como se eu pudesse falar com Deus mais facilmente, fez-me, hoje, quando voltava de minha caminhada vespertina, ver fenômeno raríssimo. Hoje havia outro astro na conjunção. Havia um triângulo luminoso no céu. Eram Lua, Vênus e Júpiter.
Fiquei tão extasiado, que andei o mais de um quilômetro quase que apenas olhando o céu. Atravessei ruas, andei por calçadas, sempre a olhar o céu e pedir para que as nuvens continuassem longe daquela belíssima imagem. Voltei orando. Deus quis me pôr um pouco à prova. Quando cheguei à esquina da rua onde fica meu apartamento, uma nuvem grossa encobriu os três astros.
Entrei em casa, peguei minha mono-reflex, como da primeira vez, apenas com a diferença de agora ser uma digital, montei-lhe o tripé, postei-me na varanda, e esperei por quase uma hora, até que as nuvens começassem a se dissipar. Então, com pouco apoio (apesar de utilizar um tripé), pois um anteparo de tela atrapalhava o correto posicionamento da câmera, pus-me a fotografar. Algumas fotos tremidas (nem sempre se faz fotos perfeitas ao primeiro clique), um pouco de nuvem ainda a encobrir parcialmente, ora Lua, ora Vênus, ora Júpiter, e eu a postos.
Logrei ver novamente o belíssimo fenômeno com o céu limpo.
Mais que belíssimo: raríssimo. Depois que fiz o registro, corri ao computador para pesquisar na Internet. E encontrei informações sobre a raridade da conjunção. A televisão também mostrou o que talvez apenas meus netos vejam novamente, pois em próxima vez já serei mais que centenário.
Não sou um baobá. Não viverei tanto.
Orei novamente.