Sonhos e carolinas.
- “Então você virá me buscar às 20h?”
- Pode ter certeza de que estarei na sua porta.
-“OK. Te espero. Então, beijos.”
...
Alô... abra a porta, cheguei.
-“Quem? Como assim? Nossa, dormi!
E foi mesmo, você dormiu ao invés de se preparar para sairmos. É o cansaço, eu compreendo, embora tenha sido ruim saber que não tinha importância minha ida aí.
No shopping você se empanturrou de tempuras e sashimis alegando que não tinha almoçado. É a fome, eu compreendo embora tenha sido ruim a cena do desespero por comida.
Já no quarto, você rolava na cama com cólicas de gases. Mas isso eu também compreendo, embora em certos momentos eu suspeitasse de que era firula para me evitar.
Você se lembra que lhe fiz chá quentinho? Viu que lhe dei luftal? Sentiu que lhe massageei a barriga? Mas uma coisa boba e banal você não viu. Qualquer pessoa que faz por amor ou piedade, embora não cobre em retorno, regozija-se com um obrigado ou um por favor. Palavras bobas, fáceis de pronunciar, mas que compensam e consolam a quem serviu. Mas isso eu também compreendo. Você estava com dores.
Entrementes, certa hora lhe fiz um carinho mais íntimo, pois era por isso que estávamos juntos, e você recusou, até com exasperação. Naturalmente me feriu a rejeição,
mas isso também eu compreendo, as pessoas tem seus limites e você, claramente, disse-me que tinha seu tempo.
Quando deu seu tempo, transamos. Você gozou sem muitas palavras e dormiu.
Infeliz, também dormi.
Amanheceu e eu novamente te procurei. Você de novo tirou minha mão.
Tomei meu banho, me envolvi na toalha, recostei na cabeceira da cama e, lendo páginas de um livro, te esperei.
Você tomou seu banho, se envolveu também noutra toalha, ligou o meu computador, leu seus emails, gargalhou com as piadas que recebeu, atualizou seu orkut, botou sua roupa e me avisou:
- “Vamos, quero chegar cedo em casa.”
- E eu? Vou ficar de novo “a ver navios”?
- “Quero pegar o ônibus logo, chegar com dia claro em casa”.
Pois é, para quem como eu esperava uma noite de carolina, com coberturas de chocolate, noite recheada de doces cremes, viver essa noite contigo foi muito ruim.
Foi tão ruim que me fez ver o quanto você é doente. Doente por egoísmo. Suas células estão doentes.Você não existe como gente, exatamente porque lhe falta o lado humano.
Sua frieza é visceral...
É genética!
O correto seria eu lhe dizer que para mim você morreu, mas isso implicaria em pensar que você era uma pessoa viva, que até já teve filhos. Mas você só verá a força deste seu egocentrismo quando, através desses mesmos filhos, isso se voltar contra você na velhice. Implicaria também no fato de que você teve história, deixou fotos, deixou lápide, você, supostamente, teve alma.
Você não merece sequer morrer.
Decididamente por isso, eu vou ter você como um sonho, pois sonho não tem fotos, não deixa passado ou marcas e a gente esquece logo com os primeiros raios de sol da manhã.
- “Então você virá me buscar às 20h?”
- Pode ter certeza de que estarei na sua porta.
-“OK. Te espero. Então, beijos.”
...
Alô... abra a porta, cheguei.
-“Quem? Como assim? Nossa, dormi!
E foi mesmo, você dormiu ao invés de se preparar para sairmos. É o cansaço, eu compreendo, embora tenha sido ruim saber que não tinha importância minha ida aí.
No shopping você se empanturrou de tempuras e sashimis alegando que não tinha almoçado. É a fome, eu compreendo embora tenha sido ruim a cena do desespero por comida.
Já no quarto, você rolava na cama com cólicas de gases. Mas isso eu também compreendo, embora em certos momentos eu suspeitasse de que era firula para me evitar.
Você se lembra que lhe fiz chá quentinho? Viu que lhe dei luftal? Sentiu que lhe massageei a barriga? Mas uma coisa boba e banal você não viu. Qualquer pessoa que faz por amor ou piedade, embora não cobre em retorno, regozija-se com um obrigado ou um por favor. Palavras bobas, fáceis de pronunciar, mas que compensam e consolam a quem serviu. Mas isso eu também compreendo. Você estava com dores.
Entrementes, certa hora lhe fiz um carinho mais íntimo, pois era por isso que estávamos juntos, e você recusou, até com exasperação. Naturalmente me feriu a rejeição,
mas isso também eu compreendo, as pessoas tem seus limites e você, claramente, disse-me que tinha seu tempo.
Quando deu seu tempo, transamos. Você gozou sem muitas palavras e dormiu.
Infeliz, também dormi.
Amanheceu e eu novamente te procurei. Você de novo tirou minha mão.
Tomei meu banho, me envolvi na toalha, recostei na cabeceira da cama e, lendo páginas de um livro, te esperei.
Você tomou seu banho, se envolveu também noutra toalha, ligou o meu computador, leu seus emails, gargalhou com as piadas que recebeu, atualizou seu orkut, botou sua roupa e me avisou:
- “Vamos, quero chegar cedo em casa.”
- E eu? Vou ficar de novo “a ver navios”?
- “Quero pegar o ônibus logo, chegar com dia claro em casa”.
Pois é, para quem como eu esperava uma noite de carolina, com coberturas de chocolate, noite recheada de doces cremes, viver essa noite contigo foi muito ruim.
Foi tão ruim que me fez ver o quanto você é doente. Doente por egoísmo. Suas células estão doentes.Você não existe como gente, exatamente porque lhe falta o lado humano.
Sua frieza é visceral...
É genética!
O correto seria eu lhe dizer que para mim você morreu, mas isso implicaria em pensar que você era uma pessoa viva, que até já teve filhos. Mas você só verá a força deste seu egocentrismo quando, através desses mesmos filhos, isso se voltar contra você na velhice. Implicaria também no fato de que você teve história, deixou fotos, deixou lápide, você, supostamente, teve alma.
Você não merece sequer morrer.
Decididamente por isso, eu vou ter você como um sonho, pois sonho não tem fotos, não deixa passado ou marcas e a gente esquece logo com os primeiros raios de sol da manhã.