Deus e o diabo mostram as caras

Há três anos comprei meia dúzia de camisas. Durante três anos estas não saíram do guarda-roupa. Então resolvi lhes dar destino mais nobre: ser útil. Fí-las chegarem a Santa Catarina. Uma geral nos armários e juntei tantas peças que me surpreendi. Fui tomado pelo espírito de solidariedade e resolvi encher mais uma caixa grande. Liguei, então, para alguns amigos próximos, e em pouco tempo precisei de outras caixas. Roupas e sapatos novos ou em bom estado às vítimas da seca-d’água chegavam em várias mãos.

É incrível este sentimento que se chama solidariedade. As pessoas que tem pouco ofertam muito, e sentem imenso prazer em ajudar. Condoem-se verdadeiramente com a dor dos que sofrem. Ao passo que os mais abastados mostram-se indiferentes. E a indiferença é-me tão repugnante! Não tenho duvidas de que tal aleijão é o pior sentimento desenvolvido pela espécie humana. Mas, não quero perder tempo com endinheirados que levam sacos de roupas aos brechós para venderem por ninharia. Eu prefiro doar, e felizmente, muitos amigos também.

Desejo de coração, entretanto, que venha o diabo e leve tudo dos avarentos. Estes são as maças podres que infectam e destroem o que há de mais sublime na espécie humana: o ser gente!

Dois militares deram depoimentos que revelam, felizmente, que o homem ainda não apodreceu, apesar dos cobiçosos. Dizia um que arranjava força para trabalhar diuturnamente nas carinhas dos flagelados. Estes se sentem protegidos com a mera presença daquele. E um outro chorava (este eu consegui gravar o nome: Osvanildo Silva) por se sentir impotente ante a grande tragédia; gostaria, pois, de recolher a todos, abrigá-los e dá-lhes comida! Um coração grande, de sentimento nobre, do tamanho do verdadeiro Brasil.

Dois homens de corações grandes e sentimentos brasileiros. São estes que devem vencer sempre. São os donos estes sentimentos que devem rechaçar a mesquinhez e imporem-se como determinantes na sociedade.

Aliás, espero que o dinheiro público seja deveras utilizado em benefício de todos; jamais rateado entre grupos econômicos ou políticos. É chato falar disto. Mas, há imenso rebanho de urubus, infelizmente, pronto à alcarradas. Estes são tão nocivos quanto os avaros; ou seriam os mesmos?

Fiquemos de olho e façamos o bem imperar entre nós. Deus salve os homens bons.