À janela do tempo
O que não chego a falar é das surras que levei. Uma menina deve ter seus segredos. Ignoro o que seja crescer sem uma palmatória, mas que ela serviu, isso sim. O que me fogem são os algarismos. Acho melhor pensar no número de vezes em que banhei no rio (Mas seria um conjunto “quase” infinito!), das que joguei bola com a molecada da rua.
Era ponto de respeito. Ou me impunha como a “macho-fêmea” ou ficavam de brincadeirinhas comigo: “Essa daí, só pensa em ler!”. Como posso reclamar? Valeu! E tudo valeu à pena. Nunca tive alma pequena. As almas penadas é que me assustavam à noite.
Eu (Perdoem o excesso da primeira pessoa) estou agora no caminho dos que recordam. Há a Dora, a Dudu (Muitas delas!)... Ui! Que movimento na língua! Eram tempos de brincadeiras-de-roda, de esconde-esconde. Os meninos misturados às meninas. Bom era esconder com o Deca (Outra vez a linguodental!)
Uns envelhecem sem as lembranças; outros as segredam em locais bem arejados na memória. Também... Têm aqueles apenas uma triste saudade dos tempos passados!
Amigos vêm e vão. Amores florescem. Coloco-me em um jardim. Vejo um poeta a furtar uma flor. Exigência da amada? Bem... É tempo de amor. As palavras saídas de meu ser estão a rasgar o papel; falo entre as lembranças de uma criança. De um sorriso sensório que ganhou de um recanto, de um doce encanto de noites de amor. Quantas foram elas?
_Mulher, fique aqui à janela e deixe o tempo passar. Se plantaste flores, dos amores colhidos, não chegues a falar! Está escrito em teu olhar.