INUNDAÇÃO - ANO 2.008 - ITAJAÍ SC - A SOLIDARIEDADE

Amigos do Recanto!

Faço complemento ao Texto que coloquei no Recanto no dia 27/11/2008.

Como dito naquele Texto estou morando na Cidade de Itajaí e apesar de não ter sofrido Diretamente os danos desta tragédia, estou participando ativamente nestes dias, no auxílio a alguns colegas que estão sendo prejudicados pelas enchentes. Não temos mais idéia de quantas vezes chove durante o dia. São chuvas de hora em hora, creio. E quando chove é quase torrencialmente.

As imagens lançadas na televisão dão um retrato fiel dos acontecimentos. Poucas vezes vi a televisão brasileira tão autentica nas imagens. E infelizmente para quem esta nos locais afetados a sucessão de fatalidades nos impressiona. Seria como se perdêssemos a noção de tempo e espaço, como se a vida fosse o que realmente é ...um sopro, um minuto, um segundo e ela desaparece engolida pelo barro, pela lama, pelas águas sujas.

Nesta tarde de sábado ajudei um colega do trabalho na limpeza da casa de seu pai, localizada em um bairro de Itajaí. Chegamos lá de carro através de ruas enlameadas, com crateras, poças de água e embaixo de muita chuva. Ela se localiza num loteamento novo,

Onde existem diversas casas novas e em construção. A casa do pai de meu colega não esta totalmente pronta, mas já servia de morada, com móveis novos e toda estrutura, água encanada e luz. A marca na parede já indicava a altura a que chegou as águas, 2 metros, o suficiente para me cobrir (confesso que senti um frio na barriga, quando vi aquela marca acima de minha cabeça).

São centenas de casas na mesma situação, todas com as marcas d’água na parede externa, muros destruídos, lixo por toda parte.

Efetuamos a abertura da porta pela primeira vez desde que a enchente atingiu o local.

O que não foi recolhido pela Prefeitura apodrece nas ruas, nas calçadas, pendurados em cercas, nas beira das estradas.

Abrimos a porta e um cheiro horrível nos atormentou...cheiro de comida estragada, puro cheiro de cebola e feijão azedos. Quase vomitamos. Enquanto trabalhávamos na lavação do imóvel, meu colega contou que seu pai, já de idade, no dia da inundação, preocupado com ela e também com um possível saque de seus pertences, pediu para sua esposa ir para a casa de meu colega enquanto ele permaneceria ali na guarda.

As horas foram passando e a água subindo. Ele tentou colocar a geladeira sobre a mesa da cozinha, mas sozinho não conseguiu. Desistiu e subiu em cima da mesa, mas a água passou acima dela. Subiu ao telhado da casa, retirou algumas telhas e ficou sobre os caibros, de vigia. Preocupado em proteger seus pertences, nem percebeu que já havia perdido tudo.

Depois de muitos apelos um caminhão o resgatou machucado e traumatizado. Teve que tomar duas injeções e está morando com este meu colega.

Na limpeza foi observado que havia quase cinco centímetros de lodo sobre o piso, sobre

A cama, o colchão, dentro e sobre o fogão, sobre a pia, sobre o vaso sanitário.

Havia roupas molhadas e sujas por todos os cômodos, fotos se desfazendo ao simples tocar dos dedos, objetos pessoais se deteriorando. A geladeira (nova) estava toda suja e em seu interior carne, cozidos, margarina, verduras, tudo se deteriorando. Baratas corriam pelas paredes em desembalada carreira. Ao ver a disposição dos móveis, das roupas, o cenário me lembrou uma fuga impossível. Como se os moradores tivessem visto um monstro terrível se aproximando e largaram o café sobre a mesa e os talhares e partiram em fuga noite adentro.

Terminamos a limpeza parcial da residência. Pouco mais havia para fazer.

Após esta lavação, ao secar, as marcas do lodo voltarão e nova lavação se faz necessária, com detergentes e mais carinho. Outras se sucederão, até uma limpeza total. Dos móveis na casa sobrou apenas a mesa da cozinha, quatro cadeiras, a pia, o WC. Perderam-se o fogão, a geladeira, o guarda-louça e comida, a cama, o armário, etc.

O cenário todo é desolador em Itajaí e região. Não se trata aqui de escrever algo para ser contado em número de leituras. É quase um pedido de socorro para o Brasil todo ouvir.

A situação é apavorante. Nosso medo é que esta tragédia possa aumentar.

Acontece como se a chuva que fosse cair no sul, sudeste, de repente

Caísse somente no Vale do Itajaí e região. É uma terra que já não suporta mais um pingo d’água e se lança morro abaixo levando a terra e o que tem pela frente.

Como um geólogo falou nesta noite na televisão, o preocupante é que a água escorre num determinado local e subitamente para. Não se sabe aonde ela vai aparecer novamente. Pode ser onde ninguém espera.

A Solidariedade que estamos recebendo do Brasil e também do exterior em donativos,

Ajuda Humana, mensagens, orações é algo maravilhoso. As pessoas têm nos reconfortado com suas ações, principalmente. Uma situação é a pessoa sentir pena, outra é partir para a ação. E o que temos visto neste Brasil É AÇÃO! é algo que engrandece nossa alma. É o orgulho de pertencer a este povo, sofrido, batalhador e vencedor.

Estamos sendo inundados pelas águas, mas o que ficará para sempre gravado em nossos corações é a inundação de Solidariedade que nos invade a cada hora que passa.

OBRIGADO BRASIL!!!

...Do que as pessoas estão precisando?

De tudo o que você possa imaginar... As maiorias das pessoas perderam Tudo o que tinham, até o lugar onde moravam.

Robertson
Enviado por Robertson em 29/11/2008
Código do texto: T1310447