Longo Novembro
Depois de desfrutar dos feriados (neste novembro foram quatro, três nacionais e um local), resolvi aproveitar os raros momentos de tranqüilidade para refletir um pouco sobre este longo novembro e suas datas interessantíssimas.
Ao olhar para cada feriado comecei a notar que na maioria dos casos, não damos a devida atenção ao sentido das datas. Temos de inicio o dia de finados, todo mundo tem direito a morrer, e conseqüentemente é justo que haja um dia específico para lembrarmos dos nossos mortos. O que me encabula é o fato de sempre chover muito nesta data, por mais cético que eu seja não consigo deixar de pensar numa conspiração dos céus. De toda forma, finados com sol, não seria justo com os mortos. Todos certamente iriam preferir aproveitar o feriado para ir a praia e não ao cemitério, o sol inibiria o clima fúnebre que o dia pede. Imagina você lá mortinho da silva, e a galera no maior sol, curtindo samba, cerveja e futebol, isso é sacanagem!
Sol, praia, samba e cerveja, já combina com o dia da proclamação da república, ai sim, podemos fazer festa. Viajar, fazer piquenique vale qualquer coisa. Afinal o que há para comemorar? Temos uma republiqueta, disfarçada por componentes democráticos, que na verdade remonta o império. Caciques, coronéis, votos de cabrestos, oligarquias, corporativismo e falsa representatividade são o que compõe de fato nosso sistema de governo. Se não temos coragem de fazer revolução e se nossa burguesia está satisfeita com os conchavos, não temos outra opção senão de fingir que nada está acontecendo. Fingir que estamos felizes com nossos salários, com a forma que a distribuição de renda é feita neste país, com a bolsa família... Logo, só nos resta aproveitar dia, esquecer ao que se refere esta data, se alguém perguntar – feriado de que hoje? – diga – sabe que não me lembro! Um dia assim não precisa ser fúnebre, precisa de sol, pão e vinho. Além do mais, dois dias fúnebres no mesmo mês é sacanagem!
Não vou mencionar o feriado local, mas antes de passar para o dia vinte, quero só fazer um parêntese sobre o filme que passou no dia quinze no canal nacional de manipulação das massas. Cazuza. Este filme devia vir com aquelas recomendações que alguns programas de circo ou acrobacias fazem. – Senhoras e senhores, o que vocês vão assistir é extremamente perigoso, portanto não tente fazer isto em casa! – Cazuza é um filme que conta a história de um burguesinho, mimado, viado e viciado que se tornou um poeta de talento. Seria melhor que não conhecêssemos sua biografia, apenas suas letras. Este filme é só sacanagem!
O dia vinte, dia da consciência negra devia se chamar dia da consciência branca, não que os negros não devam se tocar e ir à busca de seus direitos, mas os brancos necessitam se conscientizar da importância desse povo em nosso país. É impressionante que todos os grupos minoritários que foram vitimas de massacres históricos, sejam recompensados de alguma forma; os judeus (que são especialistas em conseguir indenizações) vítimas do holocausto, as famílias de vítimas dos regimes ditatoriais e os índios que estão tendo suas reservas reconhecidas. Só o negro que não leva nada. Quando se fala em “políticas afirmativas”, todo mundo vira o “bicho”. Desde a abolição, nunca se fez uma política voltada para compensar o negro por seu sofrimento, aliás, nem a abolição foi uma política neste sentido. Sabemos que o que ocorreu foi uma pressão dos ingleses para o fim do escravismo. No final, tudo foi uma grande sacanagem!
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