Humildade
Humildade é uma virtude quase esquecida nos dias atuais, mas sempre vamos ter exemplos dela. Muitas vezes vêem de seres humanos que têm tudo para não serem humildes.
Vejamos o caso de um grande ator italiano, talvez o maior, do cinema europeu. Certa vez contratado pela Metro Goldwyn Mayer para um filme nos Estados Unidos, ao chegar ao portão principal da empresa foi barrado pelo porteiro que lhe disse ser ali a porta das celebridades e que a sua entrada, como protagonista das filmagens seria através de outra porta mais abaixo.
Ele agradeceu e entrou no recinto de trabalho, onde não havia qualquer movimento. Chegou na hora em que o diretor estava relembrando as passagens do filme, e virou-se para o nosso ator dizendo: “O senhor não ouviu o que eu disse a todos os atores, o que eu quero sobre a maneira do personagem se conduzir no filme”.
Então o nosso artista, simplesmente, disse ao diretor: “eu li só uma vez o meu papel e já sei o que o senhor deseja, por isso vou interpretar a minha entrada no filme.
Estamos em 1935, em uma pequena cidade americana. O país quase restabelecido da crise de 1929. Sou um filho de italianos, nascido em San Francisco. Trabalho em jornal e venho atrás de um emprego. Entro no Café da praça. Tiro o chapéu ali no balcão e começo a coçar a cabeça, desarrumando todo o cabelo, e digo: Mamma Mia, eu queria saber onde fica a redação do “Cronic”.
Neste ponto o diretor do filme disse: “O senhor pode parar”. E abraçou o nosso ator. Virando-se para os demais artistas falou: “Eu mandei para ele um pequeno esquema do roteiro do filme, e ele já fez tudo o que eu queria: desmanchou o cabelo, bateu com o chapéu no balcão, e esse “Mamma Mia” eu iria recomendar a ele para dizer”.
Voltando-se para o nosso ator disse: “O senhor é um dos maiores talentos que eu já vi”.
Certa vez, na Itália, seria lançado um filme no qual ele era o astro principal, no Grande Teatro, em Roma. Era grande o movimento de astros e estrelas de cinema nas imediações. Quando o nosso artista chegou, muito discretamente, viu uma senhora chorando por não ter conseguido nenhum autógrafo dos artistas, que era para seu filho que estava com ela, numa cadeira de rodas.
Como a mulher não havia reconhecido o nosso artista, ele disse a ela; “Vou levar o seu filho por uma porta lateral do teatro, e a senhora me acompanhe, que eu vou pedir aos artistas autógrafos para o Genaro, seu filho”.
Tendo deixado mãe e filho bem acomodados, ele foi ter com as celebridades, quando pegou tudo o que o menino queria.
Quando as cortinas do grande palco se abriram, o diretor do filme agradeceu o empenho de todos os protagonistas do filme e acrescentou: “Eu devo dizer que o triunfo colossal desta película deveu-se, em muito, a magistral interpretação deste grande, notável e dono de uma humildade contagiante Marcello Mastroianni”. Marcello, o nosso artista, foi aplaudido de pé, por todos que ali estavam.
Quando ele foi entregar o caderno de autógrafos à mulher, ela lhe disse; “O senhor me perdoe por não tê-lo reconhecido, mas ficarei eternamente grata pelo que você fez ao meu filho”.
Então, Matroianni falou à mulher: “Do que valeria o talento que Deus me deu, se eu não tivesse vontade de ter a amizade e o calor humano dos mais humildes, e de repartir com eles os meus triunfos” ?