Fim de semana na Toca

 
           A Rodovia é a Lavras - São João Del Rei. Após algum tempo de estrada, pouco, tomamos o caminho rumo a Carrancas.“Dois quilômetros antes da Ponte Branca vocês vão encontrar uma placa: Pousada da Toca”, disse Val, que é minha irmã. Quem disse que vimos a placa? Já estávamos praticamente em cima da ponte quando percebemos que aquela era a ponte branca pela qual não deveríamos passar já que nosso caminho nos esperava dois quilômetros antes. Sem problemas. Atravessamos a ponte e fizemos o contorno dentro de um posto de gasolina  voltando pelo mesmo caminho . A placa estava ali, só não viu quem não quis. A estradinha de terra logo nos deixou na pousada. Vista de tirar o fôlego. Subimos pelo caminho mais difícil, minha amiga Eugênia, que dirigia o carro é assim mesmo, mais lerda do que eu. Paramos em frente da velha casa de fazenda, moradia dos proprietários da Pousada e ficamos observando do alto as colinas ondulantes, a rica vegetação e, mais acima, os rústicos chalés. Enquanto ninguém aparecia  apanhamos algumas acerolas madurinha do pé e as saboreamos. Logo minha irmã apareceu e também a dona da casa, minha conhecida de outros tempos em Lavras. Estávamos conversando quando vimos um cachorrinho subindo o morro acompanhado de um homem: pensei – é o Velho do Rio – não, não era. Barbado, a pele queimada de sol, roupas confortáveis, era o nosso anfitrião. Não posso negar: eu nunca o reconheceria pois a última vez que o tinha visto fazia um século. Comentamos sua semelhança com o personagem da novela Pantanal e ele nos confessou, rindo, que em recente viagem ao Centro-oeste lhe perguntaram se era Claudio Marzo, o ator da Globo. Mas, seja lá como for, a lembrança do Velho do Rio estava bem de acordo com o que tínhamos ido fazer na Pousada: Cantar as quatro direções com um  Xamã: Sthan Xannia.
 
          Aos poucos foram todos chegando. Não contei quantos éramos, mas sei que eram oito casais e um jovem. O resto éramos nós, mulheres sozinhas, mas não solitárias. No total acho que não chegamos a quarenta pessoas dispostas a passar um final de semana em busca de autoconhecimento em um local acolhedor. Levamos em nossa bagagem roupas confortáveis e deixamos para trás um mundo de problemas. Pelo menos enquanto estivéssemos ali iríamos pensar só em nós. Homens e mulheres, jovens e maduros, mas com muita coisa em comum. A principal delas, a mente aberta para viver uma experiência inigualável. Alguns inclusive já tendo passado por ela antes.
        Em minha vida já participei de experiências comunitárias inesquecíveis. De vários tipos. De nenhuma delas saí sem ter trazido comigo algum aprendizado que certamente me tornou uma pessoa melhor. Uma pessoa melhor para viver comigo mesma, uma pessoa melhor para viver com o outro. Uma pessoa cada vez mais em busca da integração com esse Universo.  Cada vez mais em busca de Deus pelo conhecimento da sua própria essência já que se considera a
Sua imagem e a Sua semelhança. Assim disseram que fui feita e assim acreditei. É isso que marca minha vida: a busca. Nessa busca cometi muitos erros e alguns acertos. Entre os acertos coloco minha disposição para o não julgamento.Sei que muitas pessoas torcem o nariz para experiências incomuns. Uma vez, em um desses cursos, fui instada a relacionar os meus preconceitos. Entreguei a lista em branco porque me considerava uma pessoa sem preconceitos. Minha lista foi devolvida e fui alertada de que só poderia entregá-la depois de uma hora, com pelo menos cinqüenta preconceitos. Achei trezentos.  Está certo, eu exagerei. Mas afinal, o que é o preconceito senão um conceito que formulamos antes de conhecer a Verdade ? E é assim que vamos formando os nossos conceitos e julgando as pessoas pela sua origem, suas crenças, seu modo de viver diferente do nosso como se fossemos os donos da verdade. Não somos, nem eu nem ninguém. A verdade é como um cristal de muitas faces. Mas com nossos olhos só percebemos algumas. E os nossos olhos só enxergam o que foram condicionados a ver. Talvez por isso, para preservar esse cristal de olhares preconceituosos não vou relatar todos os momentos que passamos lá, durante o encontro.  Já falei do momento em que vivenciamos a retirada de uma carta do Tarõ. E na medida do possível, falarei de outros momentos, intensos, divertidos e até apavorantes. Mas aos poucos. Quando eu conseguir assimilá-los bem e encontrar as palavras certas para falar sobre eles. Sobre Sthan Xanniã quem quiser saber mais pode buscar no Google. Tem muita coisa lá. Sobre a minha experiência  só eu posso contar. Por enquanto vou repetir um texto que copiei de uma  das entradas no Googlle em busca de Sthan: “ Quanto eu era pequeno eu perguntava para minha avó: O que é isto? O que é aquilo? Ela me respondia: Sinta.” É o que estou fazendo: sentindo.
Quando eu era pequeno, perguntava para minha avó
o que é isso