Homem não chora

Sei que já é madrugada, mas não me importo. Estou sentado na velha praça aonde muitas vezes vínhamos juntos. Pela primeira vez estou fazendo o que deveria ter feito há muito tempo atrás. Analisar minha vida de um outro ângulo, ver as escolhas que fiz. Nesta auto-análise não gostei do que vi. Senti-me completamente nu. Ao despir meu orgulho, minha vaidade, presunção... Caiu por terra a máscara, e fiquei envergonhado vendo que nada restou... Nunca pensei que fosse tão constrangedor estar diante de mim mesmo e da verdade. Sou fraco. Apenas carregava coisas superficiais, agora só me resta o vazio, o nada. Errar é humano... Sei... Isso não me consola mais.

E em forma de punição quero sentir toda essa dor que aflige minha alma, rogando a Deus e a você que um dia venham me perdoar. Pois sei que será difícil eu mesmo me perdoar.

Desde muito cedo é apresentado ao homem o seu papel: estudar, trabalhar, casar ter filhos... Envelhecer. Mais ou menos nesta ordem.

Como aconteceu não sei ao certo. Eu tinha tudo... Uma esposa fiel, carinhosa, mãe exemplar; o tipo de mulher que todo homem deseja ter para si. Filhos maravilhosos, crescidos, seguindo cada um o seu caminho. Enfim trinta anos de casamento. Só que nesses trinta anos roubei três para mim...

Pensando apenas no prazer momentâneo, uma prova a minha masculinidade, menti, fui omisso. Traí as pessoas que até então me consideravam um exemplo, meus filhos. Hoje dadas as circunstâncias, vejo que não foram apenas as pessoas que me amavam que traí... Também cometi esse pecado contra mim mesmo, aos meus valores e ideais..

Joguei fora anos de alegria. Pensando sempre que jamais ela descobriria. Na arte da mentira e manipulação fiquei mestre. E nessas atitudes perdi tudo... Nada restou nem o amor próprio. E de que adianta esse sentimento tardio? Você se foi. E foi inteligente o bastante de sair com sua dignidade intacta me fazendo sentir um verme. Como fui medíocre com você!

Mergulhei na pior dor de um ser humano, o arrependimento.

Já é outro dia. Hoje o céu amanheceu coberto de nuvens e o sol escondido envergonhado, tal qual me sinto. Não sei como fui capaz de manipular e planejar o seu sofrimento. Não pense que apenas você chora. Eu estou perdido em um vale de lágrimas. Ainda dizem que homem não chora! Se for verdade que isso é um ato de covardia, a carapuça serve, pois é exatamente o que sou.

Nada mais tem a beleza de antes. O sol não tem mais o mesmo calor, fere a minha pele como em um castigo. A chuva que antes me convidava a dançar nela, hoje não faz sentido algum. A lua em sua beleza infinita juntamente com a brisa na madrugada, já não enxergo mais o seu romantismo...

Mergulho no vazio causado por mim. No intuito de um prazer que achava ser inconseqüente, dilacerei minha carne. Basta um olhar atento à minha imagem e todos percebem o “farrapo” humano o qual me tornei. Não tenho mais coragem de encarar a própria imagem no espelho, ela me revela um homem fracassado.

Como gostaria de encontrar alguém para culpar! É mais fácil encontrar culpados e enxergar neles os defeitos do que admitir que estávamos enganados, que erramos... A verdade dói. Nesse jogo quem deu as cartas fui eu, mas não gostei do resultado do jogo. Perdi, e muito! Sou igual a Judas... Fui do céu direto ao inferno com promessas falsas. Estava de olhos vendados.

Estou no deserto em todos os sentidos. A única coisa que vejo em minha frente é uma miragem do remorso. E a única coisa de boa nesta história é que percebi que jamais serei perfeito, mas sou capaz de crescer com os erros.

Agora espero que um dia possas me perdoar. Sei que não mereço, mas...

Admito a falha, meu engano, só que tarde demais! E homem não chora... Será?

Setembro-2008

Alexandra Dias
Enviado por Alexandra Dias em 28/11/2008
Código do texto: T1308842
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