SEMÁFORO NO QUARTO!

TEM UM SEMÁFORO NO MEU QUARTO!

Nota explicativa –

Semáforo é o mesmo que sinaleira, luminoso ou farol, dependendo do grotão onde resida o leitor. Democraticamente, usarei todos os termos para que o leitor não fique parado em nenhum deles e chegue ao término da leitura...

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Verde! Posso ir ao banheiro!

Vermelho! Guentaí que tem gente.

Amarelo! Cuidado ao entrar. Esteja preparado.

Para sair também. Um mundo perigoso lhe espera.

O patrão.

A sogra.

Os carnês.

Ufa!

Que susto!

Ainda bem que era um pesadelo.

Não tinha o semáforo no quarto.

Mas, está quase.

No prédio ao lado, por questões de segurança, os carros ficam presos entre dois portões.

Já houve buzinaço na garagem.

Que neura!

Felizmente meu primeiro semáforo está a cinqüenta metros de casa.

Na esquina onde era a linha de chegada das corridas de carrinhos de rolimã há pouco mais de quarenta anos.

O segundo estava, logo ali, a 400 metros no topo da ladeira.

Estava.

Como disse Sergio Porto num pensamento profundo:

“Um dia o terceiro sexo ainda passa para segundo”.

No caso a segunda sinaleira é que passou para terceiro.

Um segundo, em questão de minutos, foi instalado no sopé da ladeira.

De luminoso em luminoso, o trânsito de São Paulo, que não precisa de semáforos para parar, vai parando.

Precisávamos de sinaleiras na porta das fábricas de automóveis para que eles não saíssem de lá.

Nas empresas de publicidades que vendem a ilusão do carro.

Nas entradas das financeiras que enriquecem facilitando a compra da ilusão num monte “de veiz”.

Certa feita, manifestei-me em defesa da tese do fechamento das escolas e faculdades privadas em beneficio do trânsito.

Escolas de ensino fundamental privadas geram carnês e congestionamentos.

Faculdades geram carnês, congestionamentos e barzinhos.

A escola pública está uma draga, argumentarão.

Mas não gera congestionamento.

E tem o PROUNI, as cotas.

Por favor, volte ao assunto do farol.

Parei por que estava esperando ele abrir.

Continuo.

Interatividade... Interatividade...

Para que serve um luminoso, leitores?

Para organizar o fluxo de trânsito?

Errado... O trânsito não flui com ou sem eles.

Para o agente de trânsito que deveria ajudar o trânsito a fluir – está no código de trânsito e em suas funções – ficar parado (ato falho!) encostado no poste aplicando multas no “palmtop”?

Certo.

Para a Prefeitura aumentar a arrecadação?

Certo.

Para você, cinesiforo, continuar irritadíssimo com o carro parado no meio do cruzamento depois da sinaleira abrir e fechar três vezes e você não ter andado um milímetro?

Certo. Olha só... Vê se pode... Aquela senhora de bengalinha me alcançou.

Para ficar piscando inutilmente de madrugada e gerar lucros para as indústrias de lâmpadas?

Certo. E fique feliz que não fica na esquina do seu prédio, porque, no silêncio da noite, você vai perceber que além de piscar o farol faz barulho também.

No fundo, no fundo, eu acho que sei para que servem os semáforos.

Para eu ter pesadelos que colocaram um no meu quarto.

Socorro!

Raul, pára o mundo que eu quero descer...

Mas, está parado...

Está parado no farol...

Enfermeira, dê-me outro Dormonid.

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 28/11/2008
Reeditado em 07/12/2008
Código do texto: T1308293
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