É preciso inventar de novo o amor

Hoje, na aula de Literatura, meu professor leu uma crônica famosa do Vinícius de Moraes, que eu já conhecia, na qual ele diz que se todos os seus amores morressem, ele viveria ainda assim, porém enlouqueceria se o mesmo acontecesse aos seus amigos.

Pois bem, creio que essa leitura tenha afetado a minha turma por completo, pois não foram poucos os olhares chorosos que se fitaram durante o texto. Acho até que todos os olhos chegaram a lacrimejar. Ou quase todos, exceto os meus.

Chamem-me de pústula ordinário, ou simplesmente sem-coração, mas esses textos sobre separação de amigos não me comovem mais. Desacredito, hoje, do amor das pessoas. Ver um grupo de colegas de classe, depois, se abraçando no corredor, visivelmente emocionados com o acontecimento, foi até afável, e inclusive, confesso, me fez repensar sobre essa descrença, contudo, meu cérebro volta a calar meu coração.

Mirei um ou dois colegas mais próximos da sala, com quem convivo há 4, 5 anos. Mas não tive certeza amá-los nem por um instante. Já estiveram comigo em maus e bons momentos, mas nunca nos melhores nem nos piores da minha vida. Os piores: costumo passar sozinho, chorando calado e mudo e hoje, rememorando, vejo que não foram tão graves, pelo contrário, não passaram de bobeiras juvenis – mesmo ainda sendo eu jovem, e tendo certeza de que essas tais bobeiras repetir-se-ão. Os melhores: bem, acho que nunca se identifica um melhor momento. Mesmo que se identifique eu não consigo, vasculhando meu arquivo mental, encontrar algum.

Tentei transcender os limites do colégio; levei a minha reflexão para outro plano, de todas as pessoas que eu conheço, de todos os amigos que eu tenho. Poucos rostos me vieram à mente. Poucos nomes. Que não me diziam nada, ou pelo menos não muita coisa.

Até lembrei dos amigos de um dia, que hoje já não passam de meros conhecidos de eventuais “ois e tchaus” e vi que continuavam simbolizando nada.

Refletindo bem, acho que o amor se perdeu mesmo, e não é culpa minha desacredita-lo. O tal amor, entre amigos, entre namorados, o que inclui o companheirismo e a cumplicidade, os sorrisos e as lágrimas, esses se dissolveram. Esses evaporaram.

Então, para finalizar esse texto, tenho que apelar a uma máxima do mesmo gênio da língua portuguesa que escreveu a crônica que derivou isso aqui. Certa vez, o visionário Vinícius, previu o futuro com precisão milimétrica quando cantou assim para Tom Jobim: “É meu amigo, só resta uma certeza, é preciso acabar com essa tristeza é preciso inventar de novo o amor”

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 28/11/2008
Código do texto: T1307822