Ainda vou gravar...

Foi então que abri um abri um livro sobre a Semana da Arte Moderna. Ali estavam os poemas impressionantes. Peguei o violão ao modo lira e comecei a brincar musicalmente com aquilo que estava vivo nas vozes fixas do papel. Aos poucos se reuniram. Com alguns acordes fiz a primeira arquitetura.

Aqui está o CD para gravar. Seguirei trabalhando em torno disto. Gosto de tocar violão encerrado dentro de casa. Nos dias de sol interpreto esses poemas que copiei do livro. Sem perder jamais a natureza festival da descoberta que cada qual apresenta. Nunca me deixam sem rumo. E há muitos caminhos.

Cairia bem o poema “Sol” de Oswald de Andrade, num programa de talentos. Série: Invente. Toque o poema que nunca viu antes!

Estávamos naquele encontro lírico onde tive o privilégio de ouvir a turma jingle tocar e fiquei impressionado. Eles partiram para o Rio de Janeiro e estão fazendo um grande sucesso. Queria lhes mostrar a pasta de 1922. Um verdadeiro tesouro. Vejam isto: “A Pesca Milagrosa (do Samburá)” de Azevedo Correa Filho. Poema nascido lá mesmo no Rio e de musicalidade matinal. O encontro entre peixe e esperança. Ao violão cabe brincar com dois acordes e muitas notas outro grande momento: “Paizagem de minha terra” de Brasil Pinheiro Machado (Com Z na época). Um espetáculo fílmico poético com algo de ópera solene de alta revitalização que é quase eternidade aos olhos jamais entristecidos do canto: “enquanto nos seus quintais. Os chupins malvados e alegres. Comem todo o centeio”. O encerramento com muitas vozes: “...cantando glórias pro sol de domingo”. Rara alegria de ouro de um tempo musical reproduzido através da canção nova.

O esboço musical ficou ótimo. Sei que ficou. Poderíamos degustar algumas opiniões. Em casa não é possível gravar. Você deve possuir todos os fios para tanto. Aproveite que ainda estou vivo e com tempo de prazer inerente. Por isso o poema de Perylo Doliveira, por esta razão é genial: “Um pedaço do meu poema A VOZ TRISTE DA TERRA” do Perylo, é formidável! Tem algo de samba, jaz e até rock. O poema de Achilles Vivacqua intitulado “Dança de Caboclo” é onírico ainda hoje. De Maceió o Jorge de Lima com “Diabo Brasileiro” esquecido pelos tropicalistas. Ah! Se eu pudesse mostrar como ficaria a canção aos baianos... Haveria um novo carnaval de cores e sons e alegria. “Quero casar com a Zefa. Por Deus que eu quero! Enxofre, botija, galinha preta!”

Nascido no norte e criado no extremo sul não poderia deixar de procurar na Canção do Retirante, de Jorge Fernandes o esforço, o resultado desses êxodos desesperados. Uma cena com incidente trágico de adeus rumo ao grande centro. Tal o poder das imagens poéticas contidas nesses sempre jovens versos de métrica livre.

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Algumas canções já estão disponíveis no palco MP3 aqui mesmo na web.

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