O JATO
O jato
- Fulano, tenho notado um ar triste em seu rosto. O que foi? Algum problema muito sério ou uma falsa impressão minha? Somos amigos e colegas de trabalho há tanto tempo... pode confiar em mim para desabafar algum dissabor.
- Sim, realmente ando muito preocupado. As tais coisas com as quais nunca nos havíamos preocupado há tempos! Recentemente, venho pensando muito. Deve ser a idade ou os males de “aposentados”, que tanto irritam e baixam nosso astral.
- Muito bem. – Continuei perguntando. – Mas o que é que tanto o aflige? Problemas familiares?
- Não, nem tanto, mas que preocupa não há dúvida. A gente fica matutando.
- OK. Mas afinal o que é?
- Pense bem, amigo. Vou lhe relatar: era um jato firme, bonito, saudável e de dar inveja! Era tiro e queda. Não falhava. Uma máquina perfeita! Passaram-se os anos. Como você sabe, o peso da subida da serra foi surgindo e, hoje, é preciso levantar a tampa do vaso para não molhá-la e também ter cuidado para não atingir minha calça. Parece aquele chuveirinho tímido, encabulado... a máquina tá emperrando e aquele jato forte de urina já era... cedeu lugar para esse chuveirinho... Sim, meu amigo, já fui ao médico. Estou voltando de lá agora. O negócio é mesmo velhice...
Ele, na minha frente, abriu um envelope contendo o resultado do exame e, laconicamente, sem mais nem menos, afirmou:
- Ainda bem: o aspecto é ecográfico. É de Hiperplasia Benigna da Próstata.
- É... é, amigo. – Como ele disse. – Poderia ser pior! Poderia ser maligno, já pensou?
- Amigo, não sofre não. Eu também já estou com meu chuveirinho...
- É a idade. – Concluiu ele com um tapinha nas costas.