(Imagem: Campo de Trigo com Corvos - Vincent van Gogh)
(Música: Aria Bach)


Medo: da ansiedade ao pavor

 

William Shakespeare nos deixou essa bela reflexão: “O maior erro que você pode cometer é o de ficar o tempo todo com medo de cometer algum”. O medo é uma sensação que provoca um estado de alerta, um receio em fazer ou acontecer algo, em síntese, um sentimento de ameaça física ou psíquica. Na mitologia Grega Fobos, filho de Ares e Afrodites, irmão gêmeo de Deimos, incutia nos corações dos inimigos a covardia e o medo, fazendo-os fugir. Hoje, na psicologia moderna, o medo exacerbado é tratado como uma doença grave e séria.

 

Tachar o medo, simplesmente, de uma reação de fuga ou de luta é uma idéia um tanto quanto reducionista, os animais também possuem esse mecanismo de autodefesa, mas no homem ele vai além de uma mera reação instintiva. Quando existem estímulos reais de ameaça a vida o medo é preservativo e benéfico, por outro lado, quando o medo é mais imaginário que real, torna-se nocivo. O inconsciente humano não faz diferença entre a fantasia e a realidade, quando isso acontece é uma ameaça. O medo como sentimento de autodefesa e o medo imaginário fazem parte da mente humana.

 

O Deus do medo Fobos faz parte do inconsciente coletivo, o mesmo inconsciente coletivo postulado por Carls Gustav Jung, e como parte do inconsciente coletivo continua a incutir, não mais nos corações, e sim nas mentes humanas o medo. O medo não é uma besteira e sim um patrimônio individual. E com esse patrimônio levantamos e destruímos castelos, edificamos os nossos sonhos e construímos o nosso ser. Um indivíduo com medo preservativo não cai em abismo, por outro lado, um indivíduo com medo imaginário ficará preso em um emaranhado construída por si mesmo e não evoluirá.

 

O pior de todos os medos é ter medo do medo, é não começar temendo errar, é abortar um sonho por medo de sonhar. É próprio do ser humano carregar consigo o seu saco de medos, quando muito pesado, esse o impede de caminhar livremente, quando muito leve, um simples vento pode o atirar em um abismo.

 

O ser humano possui três formas de se relacionar: relaciona-se consigo próprio, com as outras pessoas e com a natureza. Um medo comum é o de relacionar com o desconhecido, aliás, o desconhecido gera medo. Como a primeira forma de relacionamento humano é da pessoa consigo própria, o não conhecimento de si mesmo gera o mais nocivos dos medos. Quando uma pessoa não conhece as suas limitações, as suas qualidades e capacidades ela tem medo de enfrentar a realidade e de viver.

 

Relacionar bem com o medo não é ser medroso, muito menos destemido, é conhecer a si mesmo. Se o autoconhecimento não for o caminho trilhado, cairemos na célebre frase de Platão: “Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo de escuro; a real tragédia da vida é quando o homem tem medo da luz”.



Roberto Pelegrino
Enviado por Roberto Pelegrino em 27/11/2008
Reeditado em 27/11/2008
Código do texto: T1305820
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.