A VIDA E A MORTE

Recebi de uma pessoa muito especial, um vídeo contendo a palestra proferida por Steve Jobs, Diretor Executivo da Apple — fabricante do computador de marca registrada Macintosh — e da Pixar Animations a uma turma de formandos de determinada Universidade dos Estados Unidos.

Ele diz não ter se formado em nenhum curso superior, e que aquela era a ocasião em que se encontrava mais próximo de uma formatura universitária.

Durante a palestra ele conta três histórias de situações ocorridas com ele ao longo da vida. Neste texto vou concentrar-me apenas na terceira história, onde o assunto é a morte.

Começa dizendo que, quando tinha 17 anos, leu uma citação que o marcou muito e que dizia mais ou menos assim: “se você viver cada dia como se fosse o último, certamente algum dia você estará correto”. Depois disso, vivia perguntando a si mesmo “se hoje fosse o último dia da minha vida, desejaria eu fazer o que estou preste a fazer hoje?” E a conclusão, segundo ele, era óbvia. Se a resposta fosse “não” por muitos dias seguidos, era o momento de mudar algo. E isso foi fundamental na sua forma de encarar a vida, pois, ao lembrar que logo todos estaremos mortos, viu isso como a ferramenta mais importante na ajuda das suas grandes escolhas.

Todas as expectativas externas, todo o orgulho, todo o medo do constrangimento ou da derrota, toda a vaidade, essas coisas caem por terra frente à morte, restando apenas aquilo que é realmente importante. Lembrar-se, sem neuras, de que você irá morrer um dia é a melhor forma de evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. E, em nenhum momento, existe alguma razão para que deixe de seguir o seu coração.

Quando se recebe o diagnóstico de uma doença, a princípio incurável, perde-se o chão. Foi o que aconteceu com ele, que teve o diagnóstico de câncer no pâncreas. Felizmente era um tipo raro da doença, curável através de cirurgia. Fez a cirurgia e está bem até hoje.

Mas, o momento da notícia, ao saber que a expectativa de vida não passa de poucos meses, é aterrador. O médico dizendo: “vá para casa e coloque seus assuntos em dia”. O que vem a ser a mesma coisa que “prepare-se para morrer”. Significa tentar dizer para seus filhos tudo aquilo que você pensava ter mais dez anos para dizer a eles, e vai ter que fazê-lo em apenas alguns meses. Significa certificar-se que está tudo ajustado para que seja o mais fácil possível para você e, principalmente, para a sua família.

Durante muito tempo consideramos a morte como um conceito útil, mas pura e simplesmente intelectual. Ninguém quer morrer. Até as pessoas que querem ir para o paraíso não querem morrer para chegar lá, mesmo a morte sendo o único destino que todos nós compartilhamos e que ninguém tenha escapado dela.

Pensando bem, a morte talvez seja a melhor invenção da vida, o seu agente de mudança, pois ela remove o velho para dar espaço ao novo. Para aqueles que hoje são novos, pensem que um dia não muito distante, gradualmente tornar-se-ão os velhos a serem removidos. Não tem como fugir disso. É o ciclo da vida, que pode se acabar num sopro.

Nosso tempo é limitado. Então, não vamos desperdiçá-lo vivendo a vida de terceiros. Não vamos cair no dogma que é viver com os resultados e as experiências dos pensamentos de outras pessoas. Não deixemos o ruído e o eco das opiniões dos outros abafarem a nossa própria voz interior. Muito cuidado a quem se atém em pensamentos e frases feitas, pois aí pode estar a armadilha mortal para seu próprio interior, para a sua anulação como ser vivo que é.

Muitas vezes o que pode ser um tombo para nós, será uma alavancada para a nossa própria vida.

O mais importante de tudo talvez seja o de termos a coragem para sempre seguirmos o nosso coração e a nossa intuição. De alguma forma, eles já sabem o que verdadeiramente desejamos nos tornar. Todo o resto é secundário.

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Santos, 26 de novembro de 2008

Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 27/11/2008
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