SACANAGEM, HEM!?!?

Sou cristã e convivo bem com os adeptos de quase todas as religiões. Digo quase porque tenho dificuldades para aturar os radicais, os “chatonildos”, aqueles que pregam um Deus vingativo, um Pai (padrasto, em meu entender!) disposto a castigar (creio que Ele simplesmente nos deixa quebrar a cara quando Dele nos afastamos), parcial e injusto (quando dizem que ele “colocou a mão” e livrou alguém de algum mal... E por que não fez isso com todos, hem? Você, que é humano, teria coragem de proteger uns e outros não? Faz sentido dizer uma coisa dessas de Deus?). O meu Pai é a expressão do amor ágape, o maior e melhor de todos.

 
Quando o assunto é sobre outras vidas, a maioria das pessoas mostra-se céticas e entre elas eu. De fato, eu nem acredito e nem desacredito, “muito pelo contrário” (quer expressão mais idiota do que essa?). Ocorre que eu tenho o prazer e o dever de ficar “inventando moda” para, sobretudo, divertir o seu domingo. Então escolhi falar sobre... minhas vidas passadas.
 
Na primeira delas, lembro-me vagamente, eu era uma ameba, filha do Amebilo, e da Amebaly, pais dos meus manos: Amebilo Filho, Amebilton, Amebedson, Amebeolúcio e Amebandressa. O clima era um horror e tínhamos tempestades e descargas elétricas a todo hora. Um dia um raio pegou toda a minha família e a gente foi parar no céu dos protistas, junto com outras amebas e paramécios.
 
Eis que muitos anos depois, eu me descobri uma siri. Meu pai era o Sirilo, minha mãe a Siraly, meus irmãos eram o Sirilo Filho, o Sirilton, o Siriedson, o Sirilúcio e a Siriandressa. Um dia a gente tava de bobeira, um Tiranossauro Rex nos comeu e a gente foi parar no céu dos crustáceos e teve de esperar bastante para renascer.
 
Há 300 mil anos, eu me descobri comendo uma banana, pulando de galho em galho de uma floresta na Europa.  Minha mãe era Xitaly, meu pai o Xitilo, e meus irmãos eram o Xitilo Filho, o Xitilton, o Xitedson, o Xiteolúcio e a Xitandressa. Certo dia a gente descobriu que aquele negócio de ficar andando de quatro não tava com nada, pois dava muita dor nas costas e era muito perigoso ficar com o traseiro exposto para o alto. Então a gente soltou as patas da frente, se ergueu e... “foi pra galera”! Nessa época eu conheci o Xithor e juntos a gente fez o Xitito e o Xituio. Fomos todos felizes até o dia em que, de velhice, nós fomos para o céu dos homo sapiens.
 
Passou um tempão! Certo dia eu escutei: “Vem cá, vassala burra! Vem buscar meu penico cheio de cocô para despejá-lo no rio”. A voz vinha de uma sujeita porca, com a boca fedida, cheia de dentes podres, boa de tomar umas porradas nos cornos, mas eu não podia fazer nada, porque sobre sua cabeça havia uma coroa cheia de diamantes: ela era mulher de um filho de uma égua, que adorava dar festas, comprar o clero com agrados e cobrar impostos absurdos do povo, que, exatamente por isso, passava fome.
 
Estávamos no século XIII e, indignados com essa situação, eu, meu pai Vassilo, minha mãe Vassaly, meus irmãos Vassalilo Filho, Vassilton, Vassedson, Vasseolúcio e Vassandressa, meu marido Vassalor e nossos filhos Vassalito e o Vassaluio, resolvemos nos unir a Robin Hood, na floresta de Sherwood, e botarmos pra quebrar contra o rei João, que sacaneara nosso querido Ricardo Coração de Leão.
 
Bons arqueiros, a gente pintou a sapequeira, botou pra quebrar.... roubou dos ricos, distribuiu para os pobres... Tudo ia bem até o dia 20 de abril de 1233, quando o Papa Gregório IX promulgou a bula "Licet ad capiendos" e fundou a Santa inquisição. Adivinha onde a gente foi parar? Na fogueira, meu leitor, e todos fomos enviados para o reino dos churrasquinhos!
 
A gente voltou outras vezes e posso lhe contar sobre elas numa próxima vez. Por ora, raciocine comigo: ameba, siri, macaca, vassala, churrasquinho...? Não dava para ter nascido logo como rainha? Condessa, talvez? Que tal...baronesa? Nem dama de companhia delas? Sacanagem, hem!?!
  
P.S. Meus pais são Nilo e Ataly. Meus irmãos são Nilo Filho, Nilton, Nedson, Neolúcio e Nandressa. Meu marido é Thor e os apelidos de meus filhos são Tito e Buio.
 
NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 26/11/2008
Reeditado em 12/12/2020
Código do texto: T1304741
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