Uma calçada eterna e comprida

Manhã de um dia como muitos, mas havia sim, algo de diferente. Ao levantar das pálpebras naquele instante, não consigo perceber bem, mas sinto que há algo fora da normalidade, procuro perceber a minha volta o que caracteriza esta situação, o controle motor por um instante me falha, sempre foi fácil, ou melhor, sempre foi assim que acontecia, pois, num tom rápido o comando transformava em ação o pensamento, era como o crime no Direito Penal, a partir da sua exteriorização começa. Não sei porque, me veio no pensamento a imagem de uma calçada, não um simples passeio público, mas vasta, larga, cumprida, emoldurada em seus limites; como som que foge da flauta do sonhador, era a cor de seus desenhos barrocos. Mas há algo que não havia percebido na rotina de desdenhar meus passos por esta, algo como uma volatilidade de segundos, isso, os pés afundam ao tocar aquele figurado celestial. Sinto cócegas, nas extremidades da planta dos dedos, mais à esquerda, do que o outro lado, estranho, como mesmo se chama?! Agora percebo o que há de diferente nesta manhã, penso ser matinal, ao menos agora que acordei, quer dizer, abri os olhos, corroborando, tentei ao menos, mas é nesse entrave que entendo estar o problema. Não sei bem como, pois tudo mudou muito desde aquele momento do passeio, do andar por aquele caminho, já faz tanto tempo que fico buscando em algum lugar a expressão de momento. As mãos seguiam juntas, riamos ao olhar um para o outro, os olhos brilhavam, a pele tinha um calor com o trançar dos dedos, era assim. O mais interessante, que como uma cortina nos tempos de colégio no plenário lotado, aplausos, alegria, e como este desdenhar de um fato foi aquele dia, nunca mais te vi, ao menos aos meus olhos, só voa em meus pensamentos, e sempre a mesma conversa, uma calçada, nós dois, os detalhes, e chega alguém aqui como sempre para me levantar, por a sonda de lado, e me permitir mais uma epopéia, pena que só percebo, mas ninguém me percebe, e assim continuo a tentar mexer nas pálpebras, novamente em vão. Mas lá esta a calçada, só não à sinto, não estou ali, sei que um dia estive. E hoje? Onde estou? Será que a calçada existiu? Ou foi só um sopro de vontade? Eu, existi um dia!

Junior – Um sonhador

Onofre Junior
Enviado por Onofre Junior em 26/11/2008
Código do texto: T1304375
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