QUANDO SURGE O CAOS...

O que nos torna elegantes, finos, requintados, educados, racionais? O quão tênues podem ser as amarras que nos prendem à civilidade? O ser humano, nada mais que um mero animal equivocadamente chamado de homem, está sujeito às intempéries e cada vez mais dependente das comodidades proporcionadas por uma vida moderna. Hoje, acessamos os nossos e-mails em nossos notebooks, ipods ou moderníssimos celulares. Viajamos de metrô, em carro próprio, usamos fornos de microondas, televisões de plasma, home theathers, câmeras digitais. Ok, mas isso é tecnologia de ponta, adaptações do hoje e ainda é possível não depender tanto disso. Mas e o que dizer de não ter um fogão à gás, uma geladeira, um chuveiro elétrico ou, simplesmente, água encanada? Ou isqueiros, fósforos? Ou uma cama? Ou um banheiro? Ou, ainda, uma panela? O homem moderno cria cada vez mais aparatos para melhorar a sua qualidade de vida, adaptando a sua sobrevivência a esses instrumentos. No entanto, quão tênue pode ser a nossa civilidade? Desprovido disso tudo, o que surge? Desprovido de um teto sobre a sua cabeça ou meias secas ou bife empanado ou água mineral ou mesmo um calçado, que tipo de ser humano surge? Um homem ou algo mais próximo a um animal, que obedece a lei do estômago?É esta a análise feita no filme "Náufrago", estrelado por Tom Hanks que, numa ilha deserta, reaprende a viver.

Longe da ficção, os moradores de Itajaí, no litoral norte de Santa Catarina, descobrem que o homem, tão senhor do mundo, culto e intelecto, pode ter sua estrutura física, moral e psíquica abalada pelas intempéries. A cidade foi tomada por uma grande enchente que desalojou milhares e implantou o caos na cidade. Lojas, supermercados e residências estão sendo saqueados pelos próprios moradores, que há uma semana viviam a ilusão da civilidade e do requinte. Agora, a lei é o caos, é a desordem. Cidadãos, antes tão normais, tornam-se saqueadores de vitrines e de gôndolas. Está acontecendo lá, em Santa Catarina, mas poderia ter sido em Santiago, Santa Maria ou qualquer outra cidade do mundo, sob quaisquer condições, onde a gravata e o chinelo de dedos teriam a mesma importância.

No filme "Batman: O Cavaleiro das Trevas" (que deverá concorrer ao Oscar de Melhor Filme), há uma cena em que o Coringa desafia a população: se um homem não for assassinado em 16 minutos, ele irá explodir um hospital, o que gera um caos entre as pessoas que têm seus familiares naquele local. Em outro momento, desafia a sanidade de dois grandes grupos de pessoas que precisam escolher entre a sua vida e a morte do outro. Tudo para provar a sua teoria de que, para ser louco, basta um empurrãozinho. E até mesmo o mais equilbrado dos seres é capaz de mostrar o seu lado oculto, quando desprovido de sua civilidade.E ele próprio se declara um agente do caos

Os protocolos, as finesses, as mesuras, as cortesias, enfim são meramente ilusões criadas pelo homem moderno para tornar mais pacífica a sua convivência em meio às tribos urbanas. Mas a natureza cíclica revela a verdadeira natureza psíquica do ser humano: um animal, equivocadamente chamado de homem.

Márcio Brasil
Enviado por Márcio Brasil em 26/11/2008
Código do texto: T1303758
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