A Estrelinha do Meu Presépio
Estamos chegando novamente na época em que as pessoas lembram que possuem alguma sensibilidade. Até o mais duro dos seres humanos, nessa época esboça um sorriso. Daqui 29 dias será Natal, o comércio já faz tempo enfeita suas vitrines, e anuncia suas promoções. As pessoas se antecipam nas compras, estamos num momento de crise mundial, e qualquer promoção faz diferença no bolso. Shoppings, mercados, lojas de rua, todos lotados, em pleno mês de novembro, é...esse é o espírito natalino.
Digamos de passagem um espírito meio consumista, mas há décadas o Natal deixou de ser uma data em que as famílias vinham de longe, só pra celebrar o encontro e reunirem-se ao redor da mesa. Os tempos são outros, o mundo mudou e os conceitos também. Sentar ao redor da mesa, Bisavós, Avós, Pais, Tios, Filhos, Irmãos, Primos, Netos e os amigos mais chegados, ihhhh....isso ficou no tempo da Vovó. Que Deus a tenha, nem está mais aqui pra fazer rabanada, contar suas histórias, as travessuras do papai, as reinações de mamãe.
Eu sempre gostei de casa cheia, de cozinha lotada de mulheres tagarelando e cozinhando, cada qual a tua receita, outras correndo atrás das crianças para não abrirem o presente ao redor da árvore, e os homens? No quintal assando o churrasco, tomando cerveja, jogando conversa fora e de vez em quando um colocava a cabeça na porta da cozinha pra ver se tinha algo diferente preparado para o deleite da classe.
Meu prazer sempre foi acordar no dia 24 bem cedo, preparar os pratos mais elogiados, e cuidar da decoração dos ambientes. Pensar nos gostos de cada um e tentar agradar ao máximo. O Gui gostava de rabanada, a Bia do Chocotone, pra Aline a Torta Alemã, e tinha o lombo agridoce da mamãe, que um tempo depois eu aprendi a fazer, mas o dela é incomparável. Montava uma mesa com os pratos salgados, e uma com os doces, toalhas feitas por mim, e os detalhes também, cada ano uma cor predominava, ah e tinha também a mesa de café, para depois a farra gastronômica. O Natal sempre foi época de casa cheia, muito riso, unindo italianos, espanhóis e portugueses, numa mistura de cores e sabores, e mais ainda, numa mistura de união. Família grande, amigos sempre apareciam, principalmente se fossem ficar sozinhos nessa época.
O tempo passou e muita coisa mudou, as pequenas cresceram, o Gui e a Nona já não estão entre nós, mas ficou a lembrança de bons natais, que eram celebrads não com presentes, mas com presenças.
O que observo no cenário atual é que não existe mais essa preocupação, e as pessoas vão-se distanciando cada vez mais, ainda que o espírito natalino esteja no ar, através das luzinhas nas ruas e comércios.
Lembrei-me dos presépios, ah como era legal sair de casa e ver os enfeites, percorrer os presépios das Igrejas, que só recebiam o menino Jesus no alto de Natal, e ai sim a Estrela de Belém era acesa. Envolto em simbolismos e crenças, o Natal já foi a mais linda festa do ano. Sim, já foi, pois hoje já não existem os simbolismos e as crenças de outrora. Já não se reúne a família para montar a árvore, quem dirá um presépio, afinal de contas as pessoas nem se lembram que DEUS existe. Ah desculpem, lembram sim, no linguajar diário como se fosse uma gíria, de uma maneira cotidiana, usual, sem reverências, em idolatria. Mas Ele continua sendo DEUS, isso não muda.
Parece que ouço minha mãe dizer, reza antes de montar o presépio, guarda Jesus e a Estrelinha, só coloca no dia 25. Na época eu achava que faltava tudo ao fazer isso, mas a mamãe tava certa, as coisas mais importantes sempre vem por ultimo, como uma honra, como um prêmio.
Perdi muitas coisas aso longo da vida, ganhei outras tão ou mais importantes, cada qual na sua época, mas ainda falta a estrelinha do meu presépio.