O Tarô

 

          O Tarô não é um baralho comum.  Suas cartas estão envoltas em mistério. Sua origem é desconhecida,  mas é a origem de nossas cartas de jogar. Tem-se notícias dessas cartas mágicas há aproximadamente seiscentos anos. Sem precisão. Na Europa Central seu uso tem sido constante sendo utilizado em jogos ou para adivinhar o futuro. Nos últimos anos virou moda pelos lados de cá também e dezenas de jogos de cartas e livros explicativos têm sido editados. Eu tenho alguns. Não muitos. Meu interesse é superficial. Dorme um sono tranqüilo até despertar de novo se mantendo acordado por algum tempo. Como agora. Participei de um encontro nesse final de semana  tendo como um dos objetivos o resgate da criança interior que vive em nós.  Um dos momentos desse encontro foi exatamente a consulta as Cartas de um Tarô. Uma viagem para dentro das profundezas de nosso ser.

          O baralho do Tarô tem quatro naipes que deram origem aos naipes dos baralhos modernos: Bastões (paus),Taças(copas),espadas e moedas (ouros).Cada naipe tem dez cartas numeradas. Temos ainda as figuras: Rei, Raínha, Valete e Cavaleiro. O Cavaleiro não existe no baralho que chamamos de comum, ou seja, o que normalmente é usado para jogar. Sumiu, não se sabe  a razão. O Tarô ´possui também uma série de vinte e duas cartas que são chamadas de trunfos ou arcanos. Não pertencem a nenhum dos naipes. São os marcos de nossa viagem interior. Numerados, os trunfos, em sequência, contam uma história. No baralho moderno há um vestígio desses trunfos: o Coringa, que é descendente do Louco .

          Para escrever este texto dei uma lida rápida nos livros que tenho. Não sou especialista em Tarô. Os livros são: Jung e o Tarô, uma jornada arquétitípica, de Sally Nichols, O Tarô Mitológico de Juliet Sharman –Burke e Liz Greene, As cartas do Caminho Sagrado de Jamie Sams, O Tarô da Criança Interior, de ISha e Mark Lerner e O Tarô Zen de Osho.

          Um dos jogos colocados a nossa disposição foi o Tarô  Zen de Osho e foi dele que retirei a minha carta. Por coincidência eu o tenho em casa, mas nem me lembrava disso talvez porque entre os que tenho nem seja o mais belo nem o mais interessante. Mas como ainda estou dentro do círculo de encantamento resolvi dar uma olhada rápida nele. A carta que retirei no encontro representa um quebra cabeça formando um rosto de mulher onde a última peça  está sendo colocada. Seu nome é Completude  e é um arcano maior.  A peça que falta está na posição onde um dia se acreditou houvesse um terceiro olho. O olho capaz de perceber o que vai além, o olho que consegue abranger a totalidade do conhecimento. E que um raio caia em cima de minha cabeça se eu estiver mentindo: a interpretação que me foi dada me interessou mais ou menos, mas agora lendo o texto me sinto  perplexa: estou encerrando um período de minha vida e incapaz de definir o que será melhor para mim daqui para frente. E Osho me diz através da carta tirada: Aquilo  de que você se ocupou nos últimos anos, absorvendo o seu tempo e suas energias está chegando ao fim. Ao terminar você estará criando condições para que algo novo possa começar. Faça uma pausa e use esse tempo para celebrar: a partida do velho e a chegada do novo porque a vida é cheia de conclusões e novos começos.

          Caiu como uma luva para mim, mas o bom nesse tipo de jogo é que cai bem para qualquer um. No caso da Completude todos nós estamos sempre em uma fase de terminar algo e começar outro. Ou na pausa. Eu estou encerrando um trabalho e não sei ainda o que fazer da vida: continuar uma nova fase desse trabalho ou entrar em um período pausático,(o computador está avisando que essa palavra não existe) esperando o que está por vir. Mas o fim pode ser de qualquer outro tipo: mudanças de relacionamento, cidade, grandes perdas ou ganhos financeiros, marcos de algo velho pelo qual precisamos ser gratos e a espera   por algo novo. Porque nem a morte é o fim de tudo: quando a vida acaba uma nova vida recomeça seja lá de que forma for. Isso depende da razão ou da fé de cada qual. Mas há uma lei cientifica que é bastante clara. Na natureza nada se perde tudo se transforma. Se para melhor ou para pior não há como saber. Mas, como gosto de uma boa caipirinha, quando Deus me dá um limão, faço uma. E as idéias ficam mais claras.

          Se acredito em Tarô? É claro que não, como fonte de adivinhação. Mas é claro que sim, como arma para o auto conhecimento. Desde que tirei essa carta tenho refletido sobre a minha vida. Tenho pensado sobre todos os ciclos que se completam e todos que podem ter início. Há um crise no mundo e essa crise pode se refletir em minha vida. Este ano perdi um irmão e só agora estou conseguindo deixar que ele siga em paz. Chegou ao fim os cuidados com ele, cuidados que se arrastavam há anos e consumiam a minha energia. Era  uma pessoa boa mas perdida na vida. O tempo a cumprir agora  será mais leve, apesar da dor. E assim vou me aprofundando em todas as coisas que estão se completando, como o próprio ano e quem sabe, minha própria vida.