AS MENINAS
Chuvas intensas caíram e recaíram nesta semana sobre o Rio, alagando ruas como rios, e caíram pro sul também e Santa Catarina parece que sofreu muito; por toda parte houve prejuízos e perigos.
Meus filhos, no sábado, lá do sítio me telefonam “mãe estivemos no sítio e estamos voltando”... - Quê? Esqueceram de mim? E viajar com esse tempo perigoso para a serra? Esqueceram da mãe, perguntei boba?
– “Sim, esquecemos, daqui a pouco estaremos aí”.
Tenho este sítio há muitos anos e sempre o preservei, como o seu entorno, eu sempre fui ecológica por natureza. Não há plantinha, árvore, bicho, bichinhos e pássaros que eu não cuide, proteja e preserve. Enquanto os novos vizinhos logo transformam suas áreas em grandes gramados, ainda bem que são terrenos menores para lazer, eu mais árvores frutíferas ou árvores de flores eu planto. E aquelas que nascem por conta dos passarinhos e morcegos, mais respeito, pois eles sabem o que fazem, eles contribuem com o equilíbrio ecológico.
Manter o sítio consome energia, tempo e despesa. Claro, prazer também.
Em fevereiro deste ano me apareceu para trabalhar uma menina, uma moça, filha de um antigo caseiro, amigo meu e combinamos que ela ficaria responsável por tudo, criada ali, tem a mesma filosofia ecológica que eu. Tratado, oquei, carteira assinada, tudo combinado; enfim, posso ir pro Rio e ter mais tempo para escrever.
Mas veio com ela a companheira, bem mais nova, também filha de uma antiga caseira, gente muito boa, e que me diz que foi despedida do seu emprego, uma fábrica, quando soube que passara a viver com a outra mulher.
“Aí tudo muda de figura, digo eu, porque vocês não vão poder ficar separadas... Coração falou mais alto... Então você também fica trabalhando junto. As duas juntas façam todo o serviço juntas e vou pedir minha filha para ajudar meio a meio no salário de vocês, carteiras assinadas, e vocês cuidam daqui como se fosse eu, vocês já conhecem a minha preocupação com a mata, com a água e com os bichos... e eu posso ir pro Rio e nos falamos por telefone, combinado?”
A mais velha com os olhos vermelhos cheios dágua: “obrigada...” E a menor “se atirou em meus braços e deu o abraço mais comovente de quem recebeu compreensão e guarita... obrigada”, que retribuí.
A mais velha faz a melhor couve fininha e no ponto, que já apreciamos, e a menor faz uma horta com a alface mais macia e sem agrotóxico. Agora rimos e brincamos que “as meninas” agora são “a couve e a alface”.
A vida é para ser vivida com amor...
A compreensão não resolve, mas ajuda muito.