FEIJÓ JÚNIOR E OS IMIGRANTES ITALIANOS

Luiz Antônio Feijó Júnior

Após descobrir as histórias de Maria Sartori, uma jovem italiana à frente do seu tempo, nascida em 1865 e chegada ao Brasil com a família em 1879, e do Barão João Daniel Shlabrendorff, um leopoldense que foi o primeiro a comprar as terras onde cresceu o bairro São Pelegrino de Caxias do Sul, – feitos esses levantamentos para o caderno histórico sobre a origem do bairro São Pelegrino do jornal de humor O Polenteiro, sem saber, parti de encontro a fatos mais próximos à raiz da história do início da colonização italiana no Estado do Rio Grande do Sul, pesquisando mais para o sudoeste da cidade a fim de compor o caderno especial sobre o surgimento do bairro Rio Branco.

Sendo este um dos bairros mais prósperos de Caxias do Sul, está distante do Centro em torno de trinta minutos a pé, indo pela avenida Rio Branco para o sudoeste após a estrada de ferro. Nesse bairro destacam-se a igreja dos Capuchinhos, a Gráfica e Editora São Miguel, uma das mais adiantadas de Caxias do Sul, e a Rádio São Francisco FM, uma emissora estilo classe A. Ambas pertencentes à organização dos padres Capuchinhos. Por ser onde também residia a Marliva, a jornalista responsável do jornal O Polenteiro, não foi difícil encontrar ícones da história do bairro, os quais conduziram direto para os fatos e personagens dos momentos que antecederam a chegada dos primeiros imigrantes italianos ao Campo dos Bugres.

Com as primeiras famílias estacionadas e mal alojadas em Porto Alegre, recém chegadas com suas malas, baús, utensílios e até as rodas da velha carreta de bois na bagagem, como foi o caso de uma família, João Sertório, então presidente da Província, precisava assentá-las com urgência, não sabendo, porém, onde, pois todas as terras baixas, mais acolhedoras e que ofereciam melhores condições de trabalho, já tinham sido ocupadas pelos imigrantes alemães. Sendo assim, contratou Luiz Antônio Feijó Júnior, seu sócio, que tinha um empreendimento madeireiro na localidade de Triumpho, para conduzi-las e assentá-las na localidade do Campo dos Bugres, então habitado por nativos que viviam em choupanas construídas em buracos no solo, no alto da Serra Geral, na Região Nordeste do Estado, a mais de quinhentos metros acima do nível do mar. Para o assentamento dos imigrantes, os nativos foram expulsos da região. Como pagamento, João Sertório deu a Feijó Júnior uma sesmaria coberta de araucárias, pedaço de terra que vai desde a cidade de Farroupilha, vinte quilômetros a sudoeste de Caxias do Sul, até o bairro Rio Banco. Sobre sua sesmaria, o desbravador construiu uma olaria e serraria, de onde fornecia material para as construções das casas dos assentados.

Sob a condução e apoio de Feijó Júnior, os imigrantes italianos viajaram de barco até onde é hoje a localidade de São Sebastião do Caí, cruzando por entre as terras dos alemães, que muitas vezes lhes zombavam, abrindo picadas, vencendo escarpas, descobrindo o clima gelado das montanhas gaúchas. As primeiras famílias escolheram lotes nas terras mais planas, mais para o centro do Campo dos Bugres, espalhando-se depois pelas adjacências, mas sempre evitando as pirambeiras rochosas. Aos últimos, porém, não restou escolha, a não ser estabelecer-se nas beiradas dos penhascos e encostas cheias de basalto. Sendo que muitos o procuraram queixosos das condições desfavoráveis dos terrenos, cujas circunstâncias os obrigara a aceitar, Feijó Júnior dividiu sua sesmaria em lotes com dimensões onde uma família pudesse construir e plantar, tanto para a sobrevivência quanto para começar um pequeno negócio agrícola. Sendo que não tinha dinheiro para pagar, ele financiava em parcelas a perder de vista, que eram pagas em dinheiro e trabalho. Para a construção de suas casas, esses assentados podiam derrubar as araucárias das terras de Feijó Júnior, fazendo as tábuas em sua serraria, pagando depois uma parte com a venda da produção agrícola e outra parte com o trabalho prestado. Para tal, os homens trabalhavam durante quinze dias do mês para si mesmo em suas próprias terras e outros quinze dias para Feijó Júnior, abrindo estradas para o loteamento.

Bem cedo a produção de uva de muitas famílias já estava sendo transformada em vinho de excelente qualidade, que alguns colonos transportavam para Porto Alegre sobre carretas de boi, vendendo na Capital com grande demanda.

Apesar de ser um empreendedor, Luiz Antônio Feijó Júnior, estabeleceu-se em Caxias do Sul, no bairro Rio Branco. O assentamento dos italianos no então Campo dos Bugres ficou conhecido como a Colônia Sertoniana, por causa de João Sertório. E no bairro Rio Branco, por indicação de um e outro, entrevistei em 1991 duas das netas de Feijó Júnior, que estavam com a idade muito avançada. Em sua casa vi fotos muito antigas, onde aparecia o desbravador com a esposa e os filhos numa casa no meio de uma colina, em torno da qual o tempo foi plantando casas e pequenos edifícios, até formar a cidade e não ser mais possível distinguir-se o local.