VOCÊ VAI MORRER
Mais que um simples verbo, o sentido do termo "morrer" é um dos que mais assustam bem como engloba toda a humanidade, sem exceções. Não é o primeiro de todos, porque existe um associado a ele, sem o qual não faria sentido, que é, mais que um verbo o ato de
nascer, seu contraponto! Claro que para um atuar é necessário que o outro já tenha acontecido, senão...
Até aí, tudo bem, todos os seres racionais sabem que irão morrer, os irracionais fogem por instinto da morte, mas, o que tem a ver esse assunto com esse momento que estou vivendo agora, de realizações, satisfações diversas, harmonia em família, será que é para quebrar este clima tão ameno que reina a minha volta?
Seja lá o que for o fato é que todos sabemos que vamos um dia morrer, porém, se demorar mais um tanto, ou um tempão, será melhor, não é?
O pastor na igreja onde freqüento, creio que outros já fizeram essa brincadeira com os fiéis, iniciou o sermão, falando de vida eterna e perguntou quem gostaria de ir para o céu. Todos, sem exceção, levantaram as mãos. Em seguida, indagou, completando, “quem quer morrer agora”? Ao que ninguém se pronunciou. Está certo, o céu pode esperar...
Achei muita graça, não sei se por influência dessa brincadeira, tive uma noite meio atribulada, sonhei coisas sem nexo e alternadas, mas, do que me lembro desse pesadelo, foi o fato de abrir uma gaveta e encontrar um pedaço de cartolina escrito “você vai morrer”. Fechei-a rapidamente, sem ter certeza de ter visto mesmo a frase, ou se minha imaginação houvera provocado o episódio. Abri novamente e não vi nada disso, apenas lingerie e meias dobradas.
Resolvi tomar um banho para dar umas voltas, espairecer, quando abro o armário do banheiro, a mesma frase, “você vai morrer”, escrita com batom no fundo do armário de inox. Fechei a porta automaticamente, sentindo-me inserida, a contragosto, num suspense do mestre, Alfred Hithcock. Sem saber o que pensar, ou pensando sobre em que “pacto sinistro” havia me enfiado, não quis reabri-lo.
Encaminhei-me para o box, graças a Deus que não tem cortina, porque a psicose poderia ser maior. Resolvi atribuir o que acontecia ao stress diário desse mundo hodierno... Enquanto abria um sabonete, li a primeira palavra que identifiquei na embalagem, ou seja, “paz”, respirei aliviada, até que, antes de embolar o invólucro para jogar fora, li a frase toda que era “descanse em paz”. Atirei o papel para longe e resolvi gritar por alguém. Meu filho e meu marido riam animados na garagem, enquanto lavavam o carro, ignorando o que estava acontecendo comigo. Isso não pode ser sonho, beliscava meu braço para testar, não era sonho não, era a mais pura e cruel realidade!
Pensei – também morrer não deve ser tão mal assim, se essa perseguição continuar, pode ser pior. Melhor mesmo é deitar um pouco e esperar a poeira baixar – achei ser essa a melhor solução.
Sem desmanchar a cama, deitei sobre o edredom, para um rápido cochilo, mas, instantes depois, acordei com meu filho esmurrando a porta, aí, esfregando os olhos, vi que o contexto era outro: já havia amanhecido meu marido estava na suíte e meu filho Adriano, que acordara mais cedo, estava me chamando impaciente, talvez porque demorei em acordar.
Dei graças a Deus, por constatar que tudo não passou de um sonho mau e, feliz, olhei sorridente para ele que me disse:
- Mãe, você vai morrer...
- Não, chega pelo amor de Deus! Gritei desesperada.
- Que é isso mãe, está sonhando, eu disse que você vai morrer de rir de ver o clipe que eu descobri no You Tube!
- Ufa! Pelo menos isso, não é?