Mercado Livre
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Troca-se selos. Pera aí, calma, dá uma olhadinha. Trata-se do deleite em minúcias, como piadas sem graça ou velhas receitas culinárias, do tipo rã com berbalha. Você não está perdendo o seu tempo apenas para olhar os meus selos. O que você oferece? Tenho um selo escrito “porcaria”. Ops, tenho vários. Quer trocar por um escrito “alegria”? Qualé meu, porcaria às vezes traz alegria, sabia? Bom, deixa ver, tsk, também tenho um escrito “alegria”. Mas é só um. Não troco. Rá, tenho outro, escrito “honra”. Na verdade mais de um, são, hummmmm, oito. Estão meio desbotados. E 3 escrito “dinheiro”. Puídos, reconheço. Isso me lembra alguma coisa. Quando Napoleão invadiu a Itália, o rei vociferou: Napoleão não tem caráter, ele guerreia por dinheiro e eu, por honra. Eis a resposta de Napoleão, antes de lhe mostrar o próximo selo: cada um luta pelo que não tem.
Este aqui você vai gostar, está escrito “paz”. Eu te dou 2 escrito “dinheiro” e você me dá um escrito “paz”, que tal? Não sei se eles andam juntos, eu já vi eles desandarem juntos, isso eu vi. Bom, o papo tá ótimo mas vamos resumir: vai querer ou não? Não. Tenho absoluta certeza de que você não sabe o que está perdendo. Ah, gostou do “honra”, né, mas avisei, estão desbotados...pode pensar à vontade. Enquanto isso, dá uma olhada nesse aqui: “essência”. Dizem que não gasta com o tempo, embora eu não possa afirmar. Não, não troco, só tenho um, que nem o “alegria”. Sei mais ou menos o significado do segundo. Escuta, vamos fazer negócio? Não entendi, pode repetir? Fá? Desconheço selos com notas musicais. Ah, “Fé”. As palavras e os seus truques. Você sabe como os portugueses ganharam dos ingleses a Ilha da Madeira? Calma, colega, estou procurando, “Fé” deve estar debaixo de algum outro...Pois é, houve uma pendência judicial concernente à referida ilha e as duas nações. Sei que, na hora de re-examinar o contrato entre as partes, sendo um contrato algo por si só repleto de truques, o português chamou a atenção do meritíssimo. Porque em inglês, Ilha da Madeira pode ser interpretado como madeira da ilha. Foi justamente o que os ingleses levaram, a madeira da ilha... Puxa, que impaciência, hein? Precisava entretê-lo para achar o “Fé”. Achei. Tenho dois, assim, posso dispor de um. Basta um, é que nem bilhete de loteria. Ou como uma cama. Sim, uma cama. De quantas você precisa para dormir? Então, vai querer? O que me dá em troca? Hummmm, “compreensão”, cara, vou te dizer, tenho uma porção deles, mas acho que a maior parte é falsificado. Não estou dizendo que o seu seja duvidável, estou apenas comentando que os selos que eu tenho com essa estampa não são confiáveis. Façamos o seguinte: você tem aí um “alegria” sobrando, que eu sei. Te dou 3 “porcaria”, 5 “honra” e de brinde levas o “fé”, que tal? Pode pensar à vontade. Por aqui não cobramos nada por isso, visto não podermos cobrar por aquilo que não fazemos.
“Ação”? Com algum adjetivo junto, ou “ação”, simplesmente? Espera...mnã, mnã,...“ação”...pois é. Acho que na juventude se comete alguns erros. Ah, o Drummond dizia assim: “ e como todo jovem, imortal”. Bem, tive pilhas deste selo. Pois vejo, percebes a conjugação dos verbos. Estamos em falta com este, mas temos “ausência”. De tudo quanto é tipo, pode conferir, estão novinhos. Ah, você também tem...tá difícil. “Bom de papo”, está me oferecendo esse? Olha, quando uma mulher diz que você é bom de papo, ela está na realidade exclamando: fuja, esse cara é uma roubada. Isso, vai oferecer esse noutro lugar. “Experiência” eu tinha, é sim, o problema é que as coisas vão mudando, entendeu?
Bom, pelo visto não haverá negócio. Já te falei o que eu quero. Ah, você topa? Ufa, finalmente. O que? Você me cede um em troca do...., psiu, fale baixo, esse é raríssimo. Quem tem não conta. Oras... “Aceitação”. É uma espécie de dádiva, compreende? E não tem nada a ver com “resignação”. Sim, tenho alguns desses, mas não troco. Servem para me lembrar, são, como explicar, bons para a memória. Mas agora veja, vou te contar uma história sobre aceitação. O sujeito comprou 2 cavalos, mas achava-os muito parecidos, e não sabia mais o que fazer para distingui-los. Então ligou para um amigo fazendeiro e lhe pediu uma orientação. O fazendeiro lhe disse: amarre uma fita no pescoço de um dos cavalos. Passado um tempo, eles se encontram e o fazendeiro indaga: então, resolveu o dilema? O sujeito retruca: quem me dera, o cavalo se enroscou nuns arbustos e perdeu a fita. Então faça o seguinte, tornou o fazendeiro: uma marca de giz no peito de um, existe um giz especial e não é tóxico. Passado algum tempo eles tornam a se encontrar, e o assunto veio à tona. Não deu certo disse o amigo, um lamaçal medonho acabou por apagar a marca. Mas eu resolvi o problema. É mesmo, indagou fazendeiro, como? O amigo revela: descobri que o cavalo preto era trinta centímetros mais alto que o branco.
Humpf. “Aceitação”. Se eu tivesse um desses não estaria desfiando essa ladainha toda... quer saber de uma coisa, para você também! Talvez minha coleção não seja tão bacana assim. Tentarei implementá-la, mas essas coisas levam tempo. E boa vontade. Como? “Boa vontade”? Pera aí. Vai querer quantos? Troco por um “alegria”.