A beleza própria de cada idade
45 anos...(2008)
“Hão de arquear as sobrancelhas, mas eu lhes digo que, se hoje me divirto mais do que aos 30 anos, espero aos 80 achar ainda mais graça em muitas coisas que, décadas atrás, me fariam arrancar os cabelos em desespero.”*** [A conquista da velhice -Ponto de vista: Lya Luft]
Dia desses, reencontrei um amigo dos tempos de 2º grau (hoje Ensino Médio), numa atividade junto aos “Seresteiros da Pitanguinha”. Estávamos nos preparando para sair, em caminhada, e afinavam-se os violões, jogava-se conversa fora, em um clima leve, de camaradagem explícita. Bom quando a vida corre assim, tranquila feito areia entre os dedos...
E meu bom amigo, apareceu assim no meio de uma música. Ele que sonhava em ser músico, tocar bateria numa grande banda, apareceu e eu voltei 27 anos no tempo, com muita alegria. Estava ali, com esposa e filho, para acompanhar a serenata de rua no seu bairro, apaixonado que é por música, desde sempre. Fiquei feliz em reencontrá-lo depois de tanto tempo, vidinha organizada e feliz, voltando ao convívio de sua cidade.
Ao final da atividade, na despedida, meu amigo me perguntou se eu “usava formol” pois estava surpreso: eu não havia “mudado nada, nada”! Lisonjeiro (apesar do formol) e generoso amigo. Muda-se muito, sim, em 27anos.
Também esta semana, durante um compromisso de trabalho, reencontrei uma velha conhecida de minha família. Me viu menina, de bochechas rosadas e longos cabelos, a correr solta pelo lugarejo de minha infância. Admirada, elogiou muito minha aparência, minha “juventude”...E no mesmo dia, li um email de alguém que solicitava minha opinião sobre uma atividade educativa e no final, arrematava, quase que se desculpando: “Vi sua foto no Recanto das Letras. Você é muito bonita. Nem parece que tem ‘4 ponto 5’. ”
Comecei a me sentir incomodada, desconfortável. Estaria eu me transformando num Dorian Gray, de saias? Será que é recorrente o pensamento de que só se pode ser/parecer bonita aos 20 anos? Será que beleza tem prazo de validade? Qual o conceito de beleza, para quem pensa assim?
Há uma beleza própria em cada idade. Muitas de nós parecem não raciocinar que parecer ter 20 aos 50 é, no mínino, discutível, quando não, ridículo mesmo. É querer se enganar. Nenhum tratamento de beleza, por mais revolucionário que se anuncie, nenhum truque de maquiagem “transforma” quem tem 50 anos em quem tem 20, jamais.
Estou refletindo sobre aparência física, em Chronos, não em Kairós, porque isso é aprendizado, é escolha. Envelhecer não pode ser encarado como uma doença. Tantas envelhecem sem nenhuma dignidade, mutilando-se, parecendo uma caricatura do que já foi um dia.
Muitas se submetem a verdadeiras torturas medievais para manter uma aparência de 20 aos 50, 60, 70. Acho que devemos fazer o que estiver ao nosso alcance para o nosso conforto e bem-estar. Sentir-se bem dentro da própria pele é uma questão de saúde mental, mas se submeter à ditadura da moda, da mídia, da falta de auto-estima, isso não.
Muitas de nós não falam a idade nem no pau-de-arara. Só admitem ao ginecologista porque sabem que manterá segredo profissional. Uma mulher deve mesmo ter seus mistérios, seus segredos e tenho os meus acreditem, mas esse, definitivamente, não é um deles.
Porém, a despeito de todo o massacre da mídia, determinando um padrão eurocêntrico, giselebündchenano de beleza, não espero que me olhem, gostem de mim e/ou me admirem pelo critério da idade, por ser feia ou bonita. Minha auto-estima está devidamente no seu lugar e contabilizo o maior elogio que uma mulher pode receber: “Mãe, você é linda! Teu olho parece um sol!”
Sei que carrego comigo a beleza própria do meu biótipo, da minha idade. A beleza de uma mulher comum, pequena, que pariu um filho, amamentou, trabalha, se embaraça nas tarefas da casa, do supermercado, do cotidiano que corroí convivências mas que se encanta com cada amanhecer.
Tenho a beleza da alegria, a beleza de quem olha o futuro com esperanças, de quem ama, é amada, ama a vida e as pessoas que valem a pena serem amadas, de quem se encanta com todas as expressões da natureza e da Arte.
Hoje, tenho a beleza de cada um dos meus 45 anos e pretendo continuar sendo bela também aos 70, aos 80, 90...
Atualizando a foto... 52 anos(2015)
45 anos...(2008)
“Hão de arquear as sobrancelhas, mas eu lhes digo que, se hoje me divirto mais do que aos 30 anos, espero aos 80 achar ainda mais graça em muitas coisas que, décadas atrás, me fariam arrancar os cabelos em desespero.”*** [A conquista da velhice -Ponto de vista: Lya Luft]
Dia desses, reencontrei um amigo dos tempos de 2º grau (hoje Ensino Médio), numa atividade junto aos “Seresteiros da Pitanguinha”. Estávamos nos preparando para sair, em caminhada, e afinavam-se os violões, jogava-se conversa fora, em um clima leve, de camaradagem explícita. Bom quando a vida corre assim, tranquila feito areia entre os dedos...
E meu bom amigo, apareceu assim no meio de uma música. Ele que sonhava em ser músico, tocar bateria numa grande banda, apareceu e eu voltei 27 anos no tempo, com muita alegria. Estava ali, com esposa e filho, para acompanhar a serenata de rua no seu bairro, apaixonado que é por música, desde sempre. Fiquei feliz em reencontrá-lo depois de tanto tempo, vidinha organizada e feliz, voltando ao convívio de sua cidade.
Ao final da atividade, na despedida, meu amigo me perguntou se eu “usava formol” pois estava surpreso: eu não havia “mudado nada, nada”! Lisonjeiro (apesar do formol) e generoso amigo. Muda-se muito, sim, em 27anos.
Também esta semana, durante um compromisso de trabalho, reencontrei uma velha conhecida de minha família. Me viu menina, de bochechas rosadas e longos cabelos, a correr solta pelo lugarejo de minha infância. Admirada, elogiou muito minha aparência, minha “juventude”...E no mesmo dia, li um email de alguém que solicitava minha opinião sobre uma atividade educativa e no final, arrematava, quase que se desculpando: “Vi sua foto no Recanto das Letras. Você é muito bonita. Nem parece que tem ‘4 ponto 5’. ”
Comecei a me sentir incomodada, desconfortável. Estaria eu me transformando num Dorian Gray, de saias? Será que é recorrente o pensamento de que só se pode ser/parecer bonita aos 20 anos? Será que beleza tem prazo de validade? Qual o conceito de beleza, para quem pensa assim?
Há uma beleza própria em cada idade. Muitas de nós parecem não raciocinar que parecer ter 20 aos 50 é, no mínino, discutível, quando não, ridículo mesmo. É querer se enganar. Nenhum tratamento de beleza, por mais revolucionário que se anuncie, nenhum truque de maquiagem “transforma” quem tem 50 anos em quem tem 20, jamais.
Estou refletindo sobre aparência física, em Chronos, não em Kairós, porque isso é aprendizado, é escolha. Envelhecer não pode ser encarado como uma doença. Tantas envelhecem sem nenhuma dignidade, mutilando-se, parecendo uma caricatura do que já foi um dia.
Muitas se submetem a verdadeiras torturas medievais para manter uma aparência de 20 aos 50, 60, 70. Acho que devemos fazer o que estiver ao nosso alcance para o nosso conforto e bem-estar. Sentir-se bem dentro da própria pele é uma questão de saúde mental, mas se submeter à ditadura da moda, da mídia, da falta de auto-estima, isso não.
Muitas de nós não falam a idade nem no pau-de-arara. Só admitem ao ginecologista porque sabem que manterá segredo profissional. Uma mulher deve mesmo ter seus mistérios, seus segredos e tenho os meus acreditem, mas esse, definitivamente, não é um deles.
Porém, a despeito de todo o massacre da mídia, determinando um padrão eurocêntrico, giselebündchenano de beleza, não espero que me olhem, gostem de mim e/ou me admirem pelo critério da idade, por ser feia ou bonita. Minha auto-estima está devidamente no seu lugar e contabilizo o maior elogio que uma mulher pode receber: “Mãe, você é linda! Teu olho parece um sol!”
Sei que carrego comigo a beleza própria do meu biótipo, da minha idade. A beleza de uma mulher comum, pequena, que pariu um filho, amamentou, trabalha, se embaraça nas tarefas da casa, do supermercado, do cotidiano que corroí convivências mas que se encanta com cada amanhecer.
Tenho a beleza da alegria, a beleza de quem olha o futuro com esperanças, de quem ama, é amada, ama a vida e as pessoas que valem a pena serem amadas, de quem se encanta com todas as expressões da natureza e da Arte.
Hoje, tenho a beleza de cada um dos meus 45 anos e pretendo continuar sendo bela também aos 70, aos 80, 90...
Atualizando a foto... 52 anos(2015)