... E O VENTO LEVOU.
Vai ano velho! Vai que outros tantos já foram e a estas alturas da vida não sei quantos outros ainda virão. Daqui a pouco serás lembrança, porém não estarás no melhor das minhas saudades. Carregarás as culpas dos meus atropelos e descaminhos, e não te darei o crédito no VT dos melhores momentos. Paciência. Alguém que não me cobre depois deve ser sacrificado.
Vai ano velho. Vai que o outro está mordendo o freio de ansiedade e, se bobeares, te atropela. Eu estarei batendo palmas para isso, não por sádico, mas por redimido. Bom que alguém “tire as caras” por mim. E hás de perceber no espocar dos fogos e vivas ao novo rebento, um pouco das minhas vaias.
É isso aí. Sepulto contigo os dissabores sem riscos. Tempo não ressuscita, portanto, sem essa de te pagar depois em nova vida que começa, dizem, três dias depois.
Bueno, havia uma camada de fel que deveria ser removida. Vivo com tanta ansiedade e pressa, justamente por me saber além do meio da quadra para a última esquina que escorraço as mazelas do jeito e forma que sei. Faço isso covardemente no final, quando tu, ano velho, esgualepado, bate em retirada quase sem munição.
Quando a paleta do cordeiro neonato Texel estiver choramingando lágrimas de gordura nas brasas do purgatório caprichadamente produzido na churrasqueira, pendurada lá no alto até que descole o ossinho, já não estarei mais comemorando a tua partida. Estarei brindando a chegado do novo. Bom de lembrar Scarlett O"Hara no auge da depressão em ...E o vento levou: “apesar de tudo, amanhã é um novo dia”. E nem que chova, vou sair e olhar o céu. Lá verei, por certo, a mesa posta pelo Altíssimo Confrade: uma toalha azul-marinho salpicada de diamantes luzidios e um prato branco da mais fina porcelana, com relevos discretos (ouvi dizer quando criança que se tratava de uma foto do amigo Jorge dando um pau no dragão). Que seja. E nesse único prato servido para todos os comensais de fé descansará o cordeiro, sei, por brevíssimos momentos. Depois virão outros bichos do presépio que não cisquem para trás e, claro, a lentilha. E o novo dia que chegue mugindo pra se banhar na água rasa, só para lembrar do índio velho Gaudêncio Sete Luas, no caso, Sete Pratos.
Que nos seja leve o Ano Novo! Que revitalize as esperanças, aproxime as gentes e multiplique os afetos! Que continuemos produzindo coisas que nos tornem inesquecíveis e que haja muitos momentos bons de serem guardados! Que a nossa usina de vontades continue juvenil superando as contrariedades das pernas, dos braços e dos ai-ai-ais do resto da estrutura óssea emprestada em comodato pelo Criador. E que, por fim, vazio seja tão-somente um conjunto matemático. Sendo assim um axioma, seja da separação, da compreensão ou da especificação, A precisa de B para existir. E, certamente, seja o vazio também o corte da carne a ser consumida permanentemente em todos os encontros de As e Bes.