O CIÚME NA FORMA DE AMAR

“Quando atrelamos ciúme ao nosso relacionamento, acabamos com o amor”. Estas palavras ditas, de uma forma espontânea, por Pedro, em uma mesa de bar, final de tarde, junto aos amigos, num bate papo descontraído, mudou o foco das conversas e todos ali se voltaram para prestar atenção em suas palavras.

Éramos quatro: William, Antonio, Pedro e eu. O encontro, há tempos planejado, unia um pouco da literatura e da arte de transformar um fato em notícias. Por isso, quando a frase foi pronunciada, paramos. A certeza que tínhamos era que, dali, viria uma aula de como refletir sobre esse comportamento tão pernicioso, muitas vezes, tornando-se a principal causa de rompimentos entre os casais.

“Independente de qualquer situação, é preciso tomar cuidado com esse sentimento. Muitas vezes ele começa como uma brincadeira, tipo: quem ama cuida ou o ciúme é apenas para temperar o relacionamento. Mas não é verdade. Ele toma forma em circunstâncias onde a imaginação, a fantasia, a crença e a certeza são separadas apenas por uma linha tênue, determinadas por uma vaga imprecisão dos fatos”- disse o Pedro.

Procurei nos meus arquivos pessoais e pude constatar o que o nobre amigo dizia. Lembrei-me de casos relatados por amigos meus – onde o ciúme havia se instalado – e como suas rotinas tinham mudado, para pior. Particularmente, me lembrei de um caso onde um conhecido me descreveu cenas absurdas de ciúme, onde sua parceira registrava a quilometragem do seu veículo, o horário que ele saia e refazia, depois, todo o itinerário que ele havia feito – cronometrado – apenas para poder justificar suas suspeitas. No entanto, ficava inconformada porque não se concretizavam suas suspeitas, o que a levava a ter mais suspeitas sobre ele, mesmo que o distinto contasse, detalhe por detalhe, todo seu percurso.

“Ciúme foi o motivo da minha separação. Minha vida tornou-se um tormento a partir do momento em que o ciúme foi atrelado ao sentimento de Das dores. Ela passou a agir de forma distorcida com relação ao zelo que deveria ter, sua autoconfiança, dentro da relação, foi sendo contaminada pelo medo de perder o controle sobre mim, o que fazia com que ela visse como ameaça qualquer pessoa que cruzasse – profissional ou pessoal – o meu caminho. Isso, no início, até foi engraçado, porém quando passou a gerir a minha vida, transformou-se num tormento que foi aumentando, cada vez mais, ao ponto de não haver mais como respirar sem ter que justificar”- exemplificou o Pedro.

Interessante o ser humano! Passa tanto tempo a procurar por sua cara-metade, sua alma gêmea e, quando a encontra, sufoca-a. Esta dualidade – querer e cuidar – nem sempre se traduz como sendo a fórmula certa para o relacionamento. No próprio momento que há uma busca de um dos parceiros em querer ter o controle do outro, se acaba, com certeza, a liberdade individual daquele outro, passando esse outro a ter sua vida vivida apenas por um dos pares.

Lembrei-me de um artigo que havia lido em Psicologia – Brasil Escola, onde lá se exemplificam alguns casos, notadamente o da relação simbiótica, onde a idéia principal é que, depois do casamento não existe mais duas individualidades, mas uma somente. Ou seja, a partir do momento em que haja somente um ser, há uma relação de dependência e não de compartilhar com o outro, já que ele não existe. Isso se torna claro quando – e isso é bastante comum numa desavença entre casais – um dos cônjuges se arma com a palavra bíblica e profere a famosa frase lá contida: o que Deus uniu o homem não separe...

“Meus amigos, o ciúme – acreditem – é a praga mais cruel e devastadora do relacionamento amoroso, pois quando você não vive a sua metade no relacionamento, passando a vigiar a outra metade – e vivê-la – de forma integral, seu mecanismo de defesa o impede de raciocinar e perceber o ridículo da situação, levando-o a fazer coisas que até Deus duvida. Aconteceu comigo, pode acontecer com qualquer um de vocês. Fiquem espertos!” – finalizou Pedro.

Verdade. Pensei. O ciúme é um mal que deve ser extirpado de qualquer relacionamento, não podendo ser atrelado a quem deseja continuar amando o seu cônjuge.

Olhei para os nobres colegas e, me imaginando ser um terapeuta familiar, fiz minhas as palavras da Dra. Aparecida Nogueira e disse: “É muito perigoso colocar o (a) parceiro (a) como o ar que se respira, porque se ele (a) se afastar, aquele que é deixado sente-se vazio e perdido".


Obs. Imagem da internet

Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 23/11/2008
Reeditado em 05/12/2011
Código do texto: T1298987
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