ROMÂNTICOS
Talvez sejamos ainda, respingos do romantismo do século 19, nascido da ascensão de uma burguesia que queria reinventar o mundo. Talvez ainda sejamos filhotes do mal do século, do tédio, da angústia e do individualismo. As formas de escapismo hoje são outras, mas existem. Na aldeia global escapamos para o virtual, a grande fantasia de nosso tempo. Trocamos o sentimentalismo exacerbado pelo conhecimento acumulado.
Substituímos amores irrealizáveis por relações instantâneas e sem compromisso.
A virgem dos lábios de mel e cabelos pretos como a graúna, tingiu os cabelos de louro, e colocou silicone, transformando-se em mulher pomar – melancia, maçã, jaca, e por aí a fora, esperando encontrar a metade em outra fruta qualquer.
O pós-romantismo mudou de cor, e transformou a dor. Os filhotes do romantismo, não morrem de tuberculose antes da realização amorosa, como nossos quatro poetas do mal do século. Hoje, morre-se do excesso de relações, de AIDS, de acidente vascular, de aneurisma, estressados, tentando reinventar o mundo sob a égide do capitalismo globalizado, porque a caminhada para o tempo pós-romântico legou-nos como prioridade, a sobrevivência em detrimento da essência, mas tal qual os românticos, ainda sonhamos, ainda idealizamos.
Camuflados na pós-modernidade, nos tornamos autônomos e auto-suficientes, não desejamos a morte, tal qual o “Jovem Werter”; mas um punhado de sorte.
Cada um no seu quadrado, talvez seja a moderna expressão para traduzir o individualismo pós-romântico que persiste na essência que se tenta dissimular, mas no fundo do fim, ainda romanceamos nossos anseios e sonhos.