SUCO DE GRAVIOLA E O “CAR”
Como é que sabemos que estamos envelhecendo? Há algumas pistas: normalmente ficamos saudosistas e, pelo menos, uma vez por dia nos pegamos dizendo: “No meu tempo...”
Graças aos avanços científicos e tecnológicos, a humanidade está conseguindo viver mais. Isso tem feito com que os sistemas de previdência considerem que os balzaquianos são “brotinhos” e não podem se aposentar. Assim, a idade para se chegar ao direito da aposentadoria é cada vez mais tardia.
Foi versando sobre isso que há algumas noites, após 12 horas de serviço, entre um copo de vinho tinto e outro (eu), e um de suco e outro (ela), eu ouvi de Zilda Maria Fantin Moreira, uma excelente professora de Português, dos cursos de Letras, Direito e Psicologia da Unilinhares, o seguinte:
“Eu já decidi o que vou fazer quando ficar velhinha! Eu não vou para asilo de jeito nenhum, porque eu não sou besta de ficar decrépita e deixar os outros decidirem como usar o dinheirinho de minha aposentadoria”.
E continuou: “Eu vou comprar uma boa arma, escolher um estuprador de crianças ou um pedófilo, vou mirar bem na cara dele e vou atirar. A seguir, eu vou me apresentar à polícia e dizer para o delegado: Quero ser presa porque eu matei um monstro!”
Diante do meu riso frouxo, ela prosseguiu: “Se o delegado não quiser me prender, eu lhe avisarei que estou saindo para matar outro vagabundo para não ser ré primária. Eu quero ser presa!”
Perguntei-lhe o motivo e ela explicou: “Aqui fora, eu teria de manter minha casa, luz, água, telefone, minha comida e um plano de saúde caríssimo para idosos. Na cadeia eles terão que me dar uma cela especial, porque sou portadora de certificado de ensino superior e não precisarei pagar plano de saúde”.
Ponderei que poderia não ser nada gostoso morar na cadeia, ao que ela retrucou: “Que nada! A gente se acostuma! Garanto que não vou trabalhar nenhum dia lá, porque não quero encurtar minha pena. Com o dinheiro de minha aposentadoria, lá no presídio serei “malada” (com muita grana), vou ter uma porção de “jagunças” (presas que fazem "qualquer coisa" em troca de dinheiro) para lavar minha roupa, fazer minha comida, tingir meus cabelos, fazer minhas unhas e obedecer aos meus mandados”.
Com a “pólvora toda” ela continuou: “Com minha grana, vou subornar um monte de guardas, vou ter TV, DVD, geladeira e comida especial. Se eu adoecer, terei prioridade no atendimento hospitalar, pelo SUS, com hora marcada, escolta especial e direito a remédios”.
Não satisfeita ela concluiu: “Se me soltarem um dia, eu voltarei a matar facínoras, só para voltar para cadeia. Ainda por cima, a exemplo do PCC, vou montar o CAR: Comando dos Aposentados Revoltados, e liderar um movimento de velhinhos justiceiros!”
Qual era o sabor do suco que Zilda bebia? Graviola!
Enquanto não envelhecemos mais, nós duas estamos pensando em comprar um terreninho, plantar essa fruta, montar um barzinho charmoso e servir seu suco após as 23 horas. O nome e slogan do estabelecimento? “CAR, muito mais do que um BAR”.