ESTILHAÇO II - O mosaico de Karol Bauer

Não gosto de formigas. Lembram-me monstros quando suas imagens são ampliadas. Em casa havia uma enciclopédia, de mais de 20 volumes, cujas capas estavam, em sua maioria, rasgadas. Eu tinha muito medo, algo inocente, sem explicação concebível, um medo tipicamente infantil, do volume “F”. Chegava a morder os lábios de machucá-los ao me aproximar do temido livro. Quando nos mudamos do sobrado para uma casa menor, muitos objetos, móveis velhos, acabaram por ficar, inclusive a enciclopédia. Até hoje não entendi o porquê de ela não ter ido, mas, de certo modo, eu agradeço. Sei que minha fobia diminuiu, pois raramente lembrava-me daquelas fotos ampliadas, de amedrontadoras formigas. Tive um mau sonho há alguns anos atrás: Eu me afogava num mar de formigas gigantes; acordei sobressaltada, com mamãe me aliviando o pesadelo, pedindo-me calma, murmurando-me amabilidades. Gostaria de compreendê-lo, ou esquecê-lo. Por enquanto o mau sonho não se repetiu. E minhas noites foram, desde então, menos intranqüilas.

KAROL BAUER
Enviado por KAROL BAUER em 22/11/2008
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