...SAUDADE DA ÁGUA QUE MOLHAVA MEU ROSTO QUANDO CRIANÇA...

Eu queria ter uma segunda, terceira, quarta, ..., infância, para poder voltar ao universo da vida que se leva de forma leve. Eu ando com saudade de jogar bola na rua e arrebentar o dedão do pé na guia da calçada. Saudade de cair de cima de casa ao empinar um pipa. Da casa dos vizinhos por sinal. Era estranho, mas eu sempre tinha a sensação de poder fazer qualquer coisa que não me daria mal, mesmo quando tentei girar 360º nos canos que faziam o varal do quintal e eles não aguentaram a manobra radical e cederam fazendo com que eu fraturasse o pulso. Tenho saudade de ser o protegido dos irmãos quando em encrenca nas ruas, e o protegido dos pais quando em encrenca com os irmãos. Privilégios de ser o caçula. Estes dias são tão vivos na memória quanto os elogios dos professores, furiosos por não me dedicar tanto aos estudos, eles queriam um CDF e eu queria o mundo que se oferecia em doses generosas de descobrimentos sobre a vida. Eu tenho saudade do primeiro amor no ginásio, que me ignorou até o dia em que a chuva nos colocou debaixo de um mesmo teto. Foi o meu primeiro ensaio para o amor. e foi a primeira vez que me apaixonei pela chuva.