CALÇA LEE

Textos em livros de Língua Inglesa informam que, originalmente,  o tecido  jeans destinava-se à construção de barracas dos mineradores americanos, durante a época da corrida por ouro nos Estados Unidos.  Levi Strauss teria resolvido confeccionar algumas calças com o mesmo pano e vendê-las, dando início a um produto de sucesso.

Quem tem mais de 40 anos sabe bem o que significou ter uma calça Lee entre as décadas de 60 e 70.  Embora nada mais fosse que um jeans desconfortável, grosso, duro e mal acabado, (obrigando as mulheres a fazer preguinhas nas cinturas), todos nós queríamos ter um, talvez porque fosse muito difícil encontrá-lo e também ter o dinheiro para adquiri-lo. Pensando bem, provavelmente, TUDO O QUE QUERÍAMOS ERA QUE PENSASSEM QUE ÉRAMOS RICOS.

Em Linhares, as calças Lee transmutaram-se e, a cada ano, viraram Zoomp, Zapping, Nike, Mizuno..., mas os motivos são os mesmos: são marcas, são símbolos,  cujos significados indicam que o usuário tem posses.

Que tal procedimento seja comum entre jovens é compreensível (embora deva ser questionado), pois eles não têm personalidade formada, não têm experiência e nem coragem para  discutir valores. Os adolescentes têm desculpas para querer ter ícones de falso poder,  porque precisam ser iguais à “tchurma”. Adultos, não!  Gente madura tem que retirar os antolhos,  saber pensar e entender uma série de coisas que não estão explícitas em situações em que sobra inconseqüência e falta responsabilidade social. Convido você, leitor, a tentar responder algumas perguntas:

Qual é a mensagem implícita quando alguém procura bens e serviços de profissionais de qualquer área, em outro lugar que não seja aqui? Deve-se entender que Linhares não tem bons produtos e profissionais competentes e que, por isso, se deva importar essas coisas? O dinheiro pago aos profissionais de outros lugares emprega linharenses? Circula em Linhares? Será que é uma questão de incompetência dos profissionais de Linhares ou é mesmo uma questão de calça Lee?

168 anos após a fundação de Linhares, a cidade tinha um espaço urbano bem menor e uma população formada, em grande maioria, por pessoas que aqui não tinham nascido. Acredita-se que, à época, a economia amparava-se no cacau e na extração de madeira, pois eram fantásticas as Festas do Cacau e estima-se que  existiam umas 300 serrarias no perímetro urbano (empenhadas em acabar com o restinho da Mata Atlântica). Quando o governo federal proibiu  o desmatamento, muitos migraram para o sul da Bahia e, principalmente, para Rondônia e Paragominas-PA.

Já naquela época, dizia-se que Linhares era uma terra de aventureiros, referindo-se às pessoas que quando não ganham dinheiro, abandonam o lugar em que vivem.

Diferentemente de nós, o povo de Cachoeiro de Itapemirim adora a sua terra e acredita, piamente, que tudo que é de lá é bom. Aliás, os demais municípios do Espírito Santo brincam dizendo que o cachoeirense acredita que sua cidade é a capital secreta do mundo.

Quem somos nós, os linharenses de fato ou de coração? Seres pensantes, críticos e responsáveis com o lugar em que vivemos, ou um bando de preocupados com nossos umbigos, sonhando e pregando o sonho da calça Lee com justificativas indecentes que não escondem nossa futilidade ou nossa insensatez?

As respostas definirão o futuro da cidade, pois nossos filhos agirão conforme os nossos entendimentos e exemplos.