BOBALDO LUIZ

Num dia de 24 horas, eu trabalho 12, por isso tenho muito pouco tempo para mim mesma. O horário de almoço é para, além da fazer a refeição, ler um pouco de A Gazeta e assistir aos noticiários. Ocorre que, a partir do meio dia e meia, a maioria dos canais só exibe programas que não estão no rol de meus favoritos.

Até bem pouco tempo, enquanto aguardava o Evaristo Costa e a Sandra Annenberg começarem o Jornal Hoje, eu me divertia assistindo a um cômico seriado americano chamado “Everybody hates Chris”, na Rede Record. Como a empresa já não contava com novos episódios, resolveu trocar o “Chris” por uma “coisa” chamada “Balanço Geral”.

Então, eu que não sou apaixonada por esportes, desenhos animados, bichos, pregações religiosas ou ladainhas, acabo assistindo ao programa de um sujeito tosco, que, o tempo todo, se auto-elogia, o seu programa e a emissora em que trabalha.

O moço já chegou a começar o programa deitando dentro de caixões. Cantar (com voz desafinada), fazer mímica, mostrar sua barriga ou os dedinhos trepados de seus pés descalços fazem parte de suas predileções também. Ele escolhe uns temas idiotas como “cachorro que canta”, o “homem invertido”, o “bebê diferente”, a “terra dos anões”, o “gigante do Nordeste”... e trabalha mais de uma hora (acho isso porque, embora não assista ao programa inteiro, no dia seguinte, indubitavelmente, o tema é o mesmo), causando suspense, “masturbando” o juízo dos espectadores, pregando, constantemente, que seu “programa valoriza o povo”.
 
Seu apresentador, em minha opinião, é uma cópia pirata resultante de uma mistura de José Luiz Datena com Ratinho. Seu nome é Geraldo Luiz (impossível não gravá-lo, pois é repetido exaustivamente), mas como ele se diverte fazendo o povo se balançar e ordenando que seu camera man balance as imagens que estão sendo colhidas; eu o apelidei de Bobaldo Luiz.

Desde que a menina Isabella Nardoni foi atirada do 6º andar do Edifício London em São Paulo, seu tema predileto passou a ser esse. O programa começa com uma música fúnebre, tendo fotos e imagens da garotinha ao fundo, e o repórter, fazendo “caras e bocas” (de triste, de revoltado, de indignado), aumenta a voz, vale-se de maquetes, de materiais para demonstrar como as coisas devem ter acontecido e da assessoria do repórter Percival de Souza, que ganhou notoriedade após o caso Tim Lopes.

Diante de tanta apelação, o espectador não tem como não se emocionar ou fazer conjeturas sobre a autoria do homicídio. Eu mesma, às vezes a atribuo-a ao pai, às vezes à madrasta e às vezes a uma terceira pessoa. E você?

Só espero que a polícia não conclua, ridiculamente, que a pobre Isabella Nardoni tenha surtado e decidido se suicidar apertando suas duas mãozinhas ao redor do pescoço. Depois, pensara em se matar usando faca e tesoura, mas tenha mudado de idéia e optado por utilizá-las cortando a tela de proteção da janela do quarto de seus irmãozinhos e se atirado para a morte. Quem sabe não dirão, também, que, antes de se jogar, de cabeça para baixo, a menininha ainda tenha impulsionado seu corpo para frente.

Acho tudo muito triste, estou indignada como todos os brasileiros, choro ao ver as imagens da garotinha, assim como o fiz por ocasião do menino João Hélio, e sei que muito do que sinto é devido ao modus operandi de jornalistas como Percival de Souza, Marcelo Rezende ou até mesmo de “Bobaldo Luiz”.

Na verdade, acho que a “Bobalda” nessa crônica sou eu por estar promovendo o programa “Balanço Geral”. Talvez o melhor apelido seja “Espertaldo Luiz”, porque tratando os espectadores como imbecis, ou não, ele consegue (pelo menos com a idiota aqui) prender a atenção até às 13h e 15min, quando começa o noticiário da Globo.