PÉDEPATOMANGALÔTRÊSVEZES

Tenho uma certa fascinação por ditos populares e costumo imaginar o que os originou.  Diverti-me com o livro A Casa da Mãe Joana: curiosidades nas origens das palavras, frases e marcas, escrito por Reinaldo Pimenta, mas nem tudo o que me interessa está contido nele. Ademais, o respeitado Professor Doutor José Augusto Carvalho, da UFES, já escreveu uma crítica em A Gazeta , “sentando a pua” na referida obra.

Sabe-se lá o que passava na cabeça de quem inventou ditos como: “Cada macaco no seu galho”, “Macaco velho não põe a mão em cumbuca”, “Quem não tem cão caça com gato”, “Em terra de cego quem tem um olho é rei”, “Quem ama o feio, bonito lhe parece”, “Casa de ferreiro, espeto de pau”, “ Gato escaldado tem medo de água fria”, “O uso do cachimbo deixa a boca torta”...

O título deste texto, como você já deve ter percebido, nada mais é do que “pé de pato, mangalô, três vezes”, que vem a ser sinônimo de  “isola!” ou de “vade retro, satanás!”

É isso mesmo o que tenho dito de uns tempos para cá. E não é para menos. Imagine você que minha carteira profissional foi assinada pela primeira vez em 1975, e que de lá para cá eu já fui professora, diretora e coordenadora de escola, acreditando que, ao completar 25 anos de serviços, eu iria me aposentar.

Qual o quê! No meio do caminho havia uma pedra: eles mudaram a regra do jogo e inventaram duas coisas: quem foi diretor ou coordenador de escola (e alguém tem que ser! Ou não?) terá que trabalhar durante 30 anos e  ter, no mínimo, 48 anos de idade.

Chegados os benditos 48 anos, fui pedir uma aposentadoria proporcional, porque  não sei se suportarei outras tantas “novidades” da escola pública, que buscam  resolver (mas não resolvem) questões seriíssimas como as de evasão, reprovação, qualidade... e cujas origens estão na injustiça social, uma característica do capitalismo.

Se eu consegui? “Neca de pitibiriba!” Só se eu quiser ter um salário de 70% dos R$ 20, 00  (vinte reais, mesmo!) que o Estado me dá para eu não ir trabalhar (Tô reclamando de quê, né? Afinal, para o resto da vida eu iria ganhar R$ 14,00  (quatorze reais).) Existe isto? Existe! O governo anterior descobriu que é melhor remunerar para alguém ficar em casa, do que pagar o salário real do indivíduo.

Enquanto isso, o meu candidato das quatro últimas eleições ganhou, finalmente, e resolveu fazer o Fome Zero, a reforma tributária, a reforma da Previdência (Tomara que ele consiga fazer a econômica, a política, a judiciária,...)... Adivinha quem vai se lascar? Euzinha, a Professora Kita e todo mundo que está pertinho de fazer 30 anos de serviços, tem 48 anos de idade (ou quase) e que, com a aprovação da nova lei, VAI TER QUE TRABALHAR ATÉ OS 55 ANOS.

E agora, josé? “Urubu quando está sem sorte, o debaixo “defeca” no de cima”. “ Se eu correr o bicho pega, se eu ficar o bicho come”, ou seja, “estou no mato sem cachorro”.

Vivo procurando um pedacinho de madeira para bater os nós dos dedos três vezes e murmurar, rapidinho: “ pédepatomangalôtrêsvezes!”.

“Vai ser azarada assim, na casa do chapéu!”