PAPAGAIO COME MILHO...
Apesar de ser afilhada de médico, durante a primeira crise de asma que Minã teve, ela foi tratada com chá de uma planta chamada trombeta. Dizem que esse chá é muito eficaz para se chegar ao óbito ou à loucura. Imagina-se, até hoje, por que a vizinha sacana ensinou essa fórmula à mãe de nossa protagonista. O fato é que a menina arroxeou, emudeceu e ficou inerte por três dias.
Algo deve ter acontecido desde então, pois durante a educação infantil, sua coordenação motora passou a ser um espanto: nas dancinhas da escola, seus braços e pernas estavam, sempre, em sentido diferente ao das outras coleguinhas. Para piorar, ela padecia de pressão baixa e mutismo, quando gritavam com ela.
Quando mocinha, ela foi estudar em Vitória. Em sua primeira semana na capital, um fusca passou sobre um de seus pés, deixando-a um mês de repouso. Talvez por isso, até hoje, seus sapatos têm todos os bicos esfolados: ela os destrói chutando, sem querer, os meio-fios.
Deus, porém, costuma compensar esses probleminhas e a dotou de dons artísticos e de muita criatividade para pintar e costurar. Tudo de gosto duvidoso, é verdade, mas não se discutem talentos.
Três modelitos de sua autoria mereciam registros em óleos sobre tela: um paletó feito de cobertor “bicicletinha”, decorado com vários pontos russos, um vestido amarelo com peitilho feito de saco de estopa bordado com lãs coloridas, e um macaquinho, na altura abaixo dos joelhos, feito com mil e um retalhinhos multi-coloridos.
Já graduada, conseguiu arrumar um noivo e providenciou os convites, feitos em papel jornal, tamanho 9x12cm, repleto de piadas sobre si e o futuro marido. No dia do seu casamento, chegou atrasada ( como sempre, aliás), cambaleando de febre em virtude da pneumonia que contraíra e nem sabia.
Alguns anos depois, num certo sábado, ela e sua “cunhada rica”, ( é assim que Minã gosta de chamá-la) foram ao aniversário-almoço, chiquérrimo, de seu padrinho (um político famoso), numa fazenda de Linhares.
Festona mesmo: tenda sobre a piscina, show com Cauby Peixoto e apresentação de Leila e Eliakin Araújo. Garçons “salamalequentos” serviam canapés do céu, VGs empanados, champagnes Veuve Cliquot e Cristal, águas minerais Evian e Perrier, whiskies envelhecidos por “trocentos” anos, e gelo de água de coco do Hawai...
O estacionamento estava repleto de novinhas Mercedes Benz, BMWs... Gente bonita e cheirosa desfilava mostrando os Rolexes, Baume & Merciers, Vacherons e Constatins ( de ouro, minha gente, de ouro !). Linhares nunca vira nada igual!!!
Enquanto a cunhada rica ostentava um terninho da Givanchy, acessórios Gucci e sacolejantes pulseiras de Van Cleef ( ou seriam da Arpel’s?), Minã vestia uma blusa feita por ela mesma, manchada de tintol roxo e amarelo, além de uma calça jeans, “enfeitada” com ponto russo e grafitada com seu nome em amarelo-gema, sua cor predileta. No pescoço, colocou sua bijuteria predileta: um colar de bolões amarelos no mesmo tom.
Após degustarem ( esse verbo é ótimo.) tantas delícias, uma pelo excesso e a outra pela falta de hábito, as cunhadas buscaram um toillet. A rica, roçando os joelhos e dando pulinhos, reclamava à porta fechada do banheiro, até que duas novas necessitadas engrossaram a fila. Diante delas e prevendo a fedentina, a rica preferiu disfarçar, ceder a vez às novatas, para, a seguir, voltar a dar pulinhos.
Finalmente no “trono”, a “bacana”, lívida e suada, desmanchou-se em sonora, aquosa, volumosa e fétida diarréia, causando na pobre Minã, que a tudo assistia, uma quase apoplexia, em virtude da expansão do gás metano em tão exíguo recinto.
Exaurida e mais leve, a cunhada levantou-se, deixando à mostra sua “obra prima”: ½ vaso cheio! Buscou a descarga e caiu em desespero total: não havia água!!
Do lado de fora, vozes aflitas clamavam pressa, enquanto o fedor do recinto já feria as mucosas olfativas. Impotentes e sufocadas, ambas abriram a porta e disseram em uníssono: -NÃO FUI EU!
Adivinha quem deve ter levado a fama de cagona?