ME VÊ UM CALDO AÍ !
A comunicação oral pode ser prejudicada por uma série de fatores. A mensagem pode não ser decodificada em função de ruídos, de uso de vocábulos que desconheçamos, por causa de entonações indevidas, por fisionomias ou gestos inadequados...
Acaso o leitor conhece aquela piada sobre dois compadres, matutos e surdos, conversando? É, aquela mais ou menos assim:
- E aí, cumpadi, vai pescá?
- Não. Vou pescá.
- Ah, bão. Pensei qui ocê ia pescá!
Há alguns anos, eu e Zilda Fantin saíamos da Movelar, onde fôramos pedir um patrocínio para a realização da 2ª Semana Acadêmica de Letras e a colega me disse:
-Vamos à Roça?
Estranhei o convite, pois ambas tínhamos compromisso a seguir. Pensei que, talvez, ela se referisse a algum terreno ou chácara que possuísse nas imediações e quisesse me mostrar. Perguntei:
-Fazer o quê?
Ela prontamente respondeu:
-Pedir uns 300 blocos para os alunos de Letras.
Juro que me veio à cabeça a imagem dos alunos segurando um bloco de cimento nos braços. Vi que havia algo errado em nossa comunicação. Que diabo era aquilo? Roça? Blocos?...
Com muito custo entendi que Zilda me convidava para ir à Gráfica Rossi pedir blocos de anotações à Cristina ou Neguinho, os proprietários.
Questões assim são comuns e nunca se sabe se a origem é uma questão de audição, de dicção ou de ambas.
Às sextas feiras, após as aulas na Unilinhares, costumamos estar exaustos e só dispostos a rir e desopilar os fígados. Assim, costumamos ir a algum barzinho ou casa de caldos. Invariavelmente alguém pede caldo de feijão, verde, de camarão, péla égua... Entre um caldo e uma bicada na cervejinha gelada, alguém conta uma piada, ou comenta-se sobre aquelas coisas que todo mundo acha feio, mas que vive fazendo: a vida dos outros.
De repente, eis que estacionou um carrão bonito e dele saltou uma loura que se sentou próximo à nossa mesa.
O garçom, gentilmente, ofereceu-lhe o cardápio e ouviu como resposta:
- Não. Me vê só um caldo.
- De quê? Perguntou o cortês rapaz.
- De cana, ora bolas!
Diante da estupefação geral e de risos, a loura virou o capeta, levantou-se bufando, entrou no carro e saiu “cantando” pneus.
Este não foi um problema de audição e nem de dicção. Mesmo que nunca lhe tenham dito que não se começam orações com pronomes oblíquos, e que ela nem sonhe o que venha a ser isso; confundir casa de caldos com pastelaria é para doer, não é não?
Talvez a origem seja apenas um problema de.... água oxigenada em excesso.