GENTE "COISA" É A MESMA COISA
Por esses felizes e irônicos acasos da vida, há alguns anos, estávamos Mª Olímpia Dalvi Rampinelli, Beth Braga, Jaudeti Tozato, Izaura Pratissolli, Mª do Carmo Cassundé, Denise Marchiori e eu, num cerimonial chiquérrimo, no bairro Savassi, em Belo Horizonte.
Éramos convidadas especiais de Evandro Neiva, nada mais nada menos que o presidente do renomado Grupo Pitágoras, organizador do V congresso Qualidade em Educação, na capital mineira.
As mordomias começaram com o transporte especial, que recolheu seletos donos de escolas, inclusive no Othon Palace Hotel, onde, aliás, nós não estávamos hospedadas. Aliás, não adianta querer saber onde estávamos, que o máximo que eu informo é que na porta de nosso “refúgio” havia uma placa dourada da Embratur com duas estrelas.
Éramos umas 50 pessoas, entre elas umas 15 irmãs de caridade, todos cheirosos e com roupas de ver Deus.
Assistimos a uma palestra sobre as maravilhas de virmos a ser parceiros na rede Pitágoras, e fomos agraciados com um coquetel rico em canapés de salmão, caviar, kani, champignons... Como se não bastasse, levaram-nos ao salão de jantar, onde mesas redondas, primorosamente decoradas, tinham sobre si “trocentos” talheres e copos em tamanhos diferentes.
Serviram-nos “consomés” de caviar e, então começou antipatia: convidaram-nos a levantar, entrar em fila, pegar um prato e sermos servidos por garcons. Acho isso uma pobreza. Como assim? Ora, esse tal de serviço à francesa não é bem uma questão de gentileza, é mesmo o medo de que os esfomeados comam tudo e a comida acabe. Você já viu rico de verdade ter medo de comida acabar? Além disso, algum garçom já conseguiu adivinhar o tamanho da sua fome?
Bem, voltemos ao assunto. Por acaso o leitor já comeu filezinhos recheados com queijo cheddar, strogonoff feito com bolinhas de maçã ou de melão, cenouras em fios quase invisíveis, e arroz selvagem (um negócio cheio de gravetinhos marrons, não sei de quê e com gosto de nada).
Fiquei tão impressionada com o arroz que pensei com meus botões:”se sirvo este arroz aos meus convidados, vão dizer que eu sou relaxada, que não catei os “marinheiros”, ou pior, que a panela caiu no chão sujo e eu, porca e economicamente, o recolhi e servi.”
Findo o jantar, recolhidos os pratos, sobrou uma colher de sopa, na frente de cada convidado. Aquela colher ficou olhando para mim uns 30 minutos, até que o vinho soltou a minha língua e me fez pegá-la, batê-la, delicada e divertidamente, na borda da mesa e perguntar ao garçom:
- Mas... pra que mesmo que serve esta colher?
Tivemos todas ataques de risos. O Solimar, um policial militar que fazia “bico” de garçom, só faltou rolar no chão de tanto rir.
Achei pouco e completei:
- Não ri, não! Se eu não perguntar pra você que é igual à gente, vou perguntar para quem?
Descobrimos que a colher de sopa (de repente é chic, né?) era para comer pavê de café e/ou pudim de damascos com calda de laranjas.
Pois é... Gente fina é outra coisa, mas gente “coisa” ... é a mesma coisa.