FOI MAL DONA ARLÊNE, BRENO VIERA E BILAC

A crônica de hoje exige uma retrospectiva literária, por isso exponho uma pesquisa sobre o Parnasianismo, que, aliás, eu bem que deveria saber de cor. Vejamos:

O Parnasianismo foi um movimento literário originado na França, no século XIX, em oposição ao Romantismo e expressou, na poesia, o espírito positivista e científico da época. O seu nome vem do Monte Parnaso, a montanha que, na mitologia grega, era consagrada a Apolo e às musas. Seus autores procuravam recuperar os valores estéticos da Antiguidade Clássica.

Ele se caracteriza pela sacralidade da forma, pelo respeito às regras de versificação, pelo preciosismo rítmico e vocabular, pela rima rica e pela preferência por estruturas fixas, como os sonetos. O emprego da linguagem figurada é reduzido, os temas preferidos são os fatos históricos, objetos e paisagens e a descrição visual é o forte da poesia parnasiana. Seus autores faziam "arte pela arte", pois acreditavam que essa deveria existir por si só, e não por subterfúgios, como o amor, por exemplo.

O Parnasianismo surgiu timidamente no Brasil nos versos de Luís Guimarães Júnior (Sonetos e rimas. 1880) e Teófilo Dias (Fanfarras. 1882), e firmou-se definitivamente com Raimundo Correia (Sinfonias. 1883), Alberto de Oliveira (Meridionais. 1884) e Olavo Bilac (Relicário. 1888). Esse movimento literário dominou a poesia até a Semana de Arte  Moderna de 1922.

Olavo Bilac!! Nome bonito!! Como filha de militar, enjoei de ver o retrato dele nas repartições do Exército Brasileiro. Acho que é, também, porque foi ele quem escreveu o Hino à Bandeira: “Salve, lindo pendão da esperança/ Salve, símbolo augusto da paz! / Tua nobre presença à lembrança / A grandeza da Pátria nos traz...”

Hoje, 38 anos após o fato que irei relatar, preciso de me desculpar primeiro com Bilac e Dona Arlêne. Certa vez essa amada mestra solicitou-nos que pesquisássemos uma poesia e a escrevêssemos, informando quem era o autor.

À época, não havia biblioteca pública em Linhares e não consegui localizar os livrinhos de poesia de Castro Alves (ainda bem porque elas são enoooooorrrmes) que havia em minha casa.  Não me fiz de rogada, escrevi uns versinhos que minha mãe me ensinara quando pequenina:

Na hora em que as cortinas se fecham lentamente, a noite vai descendo silenciosamente. Os olhos cerro e durmo em meu quentinho leito, sonho por mil mundos, passeio satisfeita. Ainda ontem, bem me lembro, sonhei que entrei numa cidade e que cidade linda! Pena é não ser verdade. As ruas todas eram de pão-de-ló calçadas, de rapadura as casas, os muros de queijada. A catedral enorme era de goiabada, com um sino e duas torres, todos de marmelada. Na biblioteca tinha só livros de beiju, mesas de queijo suíço, cadeiras de sagu. Empadas descobertas serviam de canteiros, por flores tinham dentro os camarões inteiros. Chovia cajuada, groselha e capilé, em lamas de groselha eu escorregava o pé. E eu comendo sempre, comendo sem parar, quando a mamãe me veio de súbito acordar. Vocês façam idéia como fiquei zangada, tinha um pudim de creme apenas principiado!

Como eu não sabia quem era o autor, adivinha a quem eu atribuí a autoria? Isso mesmo: OLAVO BILAC! Eu sabia lá que essa poesia era de Breno Vieira? Fui descobrir isso recentemente, quando digitei parte dela no Google e caiu numa página do saudoso Renato Pacheco.

Se eu imaginava que Dona Arlêne iria descobrir a verdade? Sinceramente, eu não sabia nem que havia escolas literárias, quanto mais que Bilac era parnasiano! Aliás, eu só sabia que eu ficava intrigada com duas coisas que havia em seu retrato exposto na Junta do Serviço Militar de Linhares: seus óculos sem “pernas” e seu bigodinho meio ridículo, a la Hitler. Devo ter desconfiado, porém, que minha querida professora descobriria minha fraude, pois dei um jeito de faltar no dia em que ela devolveu os trabalhos à turma.

Tenho Dona Arlêne em elevadíssima estima (Eh, frase parnasiana, hem!! Acho que o moço do bigodinho soprou em meus ouvidos agora! Rs,rs,rs...) e com ela trabalhei por mais de 15 anos no Colégio Cristo Rei. Em todo esse tempo, eu nunca me lembrei de confessar a “meleca” que, um dia, eu fiz com ela, Breno Vieira e Bilac!

Antes tarde do que nunca. Peço perdão como a juventude hoje o faz. Fecho ligeiramente minha mão direita, coço acima do peito direito com quatro dedos e digo: “Foi mal, Dona Arlêne, Breno Vieira e Bilac! Foi mall!” 

Como penitência, assumo publicamente o “mico”.