O nó da vírgula
Impressionante como um simples tracinho pode complicar a vida de leitores e principalmente de escritores. Estes podem codificar, por descuido ou desconhecimento, justamente, o oposto do pretendido; enquanto àqueles podem fazer inflamado alarido ou simplesmente comprarem gato por lebre.
As dicotomias escrachadas se iniciam já nas definições dos dois principais dicionários, por mim consultados regularmente. Uma delas é tão infame que nem ouso transcrevê-la aqui. E para transcrever uma e outra não, fica-se sem nenhuma. Se o caso é estarrecer-se, é só consultar o Aurélio e o Houaiss.
Mas, se consultares e achares que eu não sei o que digo, sejas feliz; aliás, sê feliz ouvindo, e dançando, e curtindo o funk!
Como pode, entretanto, colocar-se em comum uma mensagem, se o conjunto (as pessoas) não domina o mero código? Como o português do Brasil se faz compreender para então tornar-se possível a comunhão de conhecimentos científicos: medicina, engenharia, literatura e outras? Aleluia.
Isto não é defesa do academicismo lorpa que nos enfiou na mão a lanterninha do subdesenvolvimento humano. É só o desabafo de um impotente ante a explicita possibilidade de décadas de raquitismo intelectual a se vislumbrar.
Pois, a esperada reforma ortográfica, se servir para alguma coisa, facilitará a vida do ensino fundamental, somente! Unir o mundo lusófono?! De que maneira? Quero estar vivo quando divulgarem o resultado pífio daqui a 10 ou 20 anos!
Não obstante, eu, produto do meio, devo ater-me à normatização da virgula. A culpa é do Jorge que me não ensinou coerência e coesão. rsrsrs
Gramáticos que gramáticos e nem uma luz! Digo: a mesma luz dita em sueltos. Ninguém se arrisca numa teoria nova. O novo não existiria? Tantos doutores consultei, tipo da-usp-pra-riba, que considerei por bem classificá-los em três grupos, conforme similaridade de explanação.
O Grupo um explica tudo, de a ao z, em milhentas páginas. Entrementes, a palavra pontuação simplesmente não aparece, nem por engano. A tal vírgula – varinha, traço ou linha – muito menos. Uma ignorada plena!
O outro grupo já de inicio joga a toalha e vem de leve. Em linhas gerais diz que nada tem a ver com o caso e deseja apenas ganhar uma grana; pois, não existe uniformidade entre os profissionais do ramo, e por isto, ele concordará e dirá apenas o que todos dizem.
(Gostei deste grupo. Pelo menos tem áurea de honestidade! Seria este o patrocinador da reforma ortográfica?)
O terceiro se apresenta com força e convicção - agora vai, pensa-se. Garante que na língua portuguesa somente as paradinhas sintático-semânticas são virguladas; pausas por cansaço ou gagueira não são marcadas. Os enfeites podem ou não ser separados, dependendo do gosto. O pecado mortal, entretanto, é separar o sujeito do verbo e do seu complemento por virgulação.
Levar-te-á o cão ao inferno, dentro de um saco roto, fedorento e atado a espetão flamejante, se desrespeitares a trindade SVC. Se a confundires com empresa de turismo, demonetes levar-te-ão ao purgatório. Estes, apesar de usarem o mesmo saco, os espetinhos são menores. Mas, doem,queimam e humilham do mesmo jeito.